Caminhoneiros sofrem com o caos em que se transformou, nos últimos dias, a região portuária de Santos para o embarque da safra de grãos
17 de março de 2013 | 2h 06
PABLO PEREIRA - O Estado de S.Paulo
Carregado com 37 toneladas de soja, o sete eixos de
placas HKE 0878, dirigido por Sonildo Alves de Souza, de 40 anos, saiu da
Fazenda São Luis, em Ipiranga do Norte, no Mato Grosso, na sexta-feira, dia 8.
O motorista atravessou quase
2 mil quilômetros, numa viagem de quatro dias, até chegar
ao Porto de Santos, litoral de São Paulo, no começo da noite de segunda-feira.
Mas chegar é uma coisa; entregar a encomenda, é outra.
Sonildo teve de esperar 31 horas na fila de caminhões para descarregar no
terminal de granéis da T-Grão, na Avenida Silo do Porto de Santos.
No final da tarde de terça-feira, 20 horas depois da
chegada à Baixada Santista, o cargueiro servia de sombra para a rede do
motorista, estacionado perto da Praça Guilherme Aralhe, onde fica a empresa
T-Grão Cargo - Terminal de Granéis, endereço final da soja do cerrado.
"Antes da meia-noite não descarrega", previa Sonildo, atirado na
rede, já conformado com a longa espera na fila dos caminhões.
Em 2012, o Brasil colheu 166,17 milhões de toneladas de
grãos. Agora se prepara para tirar da terra 183,58 milhões de toneladas de
grãos, um aumento de 10,5% em relação ao ano anterior. Segundo a previsão da
colheita de 2013, o crescimento somente da soja é de 23,6% - que deve chegar a
82,06 milhões de toneladas, segundo dados da Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab).
Trânsito. Nos últimos 15 dias, a região portuária de
Santos, Guarujá e Cubatão passou apertada com a chegada das cargas do interior
do País. Na sexta-feira, o boletim de trânsito das 8h26 da Ecovias,
concessionária que administra o Sistema Anchieta-Imigrantes, apontava
dificuldades no trânsito da Rodovia Cônego Domênico Rangoni, no sentido
Guarujá, do km 262, ao km 248, e na SP 248 do km 1 ao 5. Motivo, segundo a
Ecovias: "excesso de caminhões que acessam os terminais portuários".
Diante do movimento, a Codesp, administração do porto de
Santos, admitiu em nota que "há relevantes déficits ao longo de toda a
cadeia logística". De acordo com a Codesp, "o problema explode na
ponta no final desta cadeia que é o entorno da área portuária".
Os caminhões carregados de grãos enchem estacionamentos,
como o do Ecopátio, área de regulação de cargas administrada pela Elog, empresa
localizada no km
262 da Rodovia Cônego Domênico Rangoni. O Ecopátio é a
maior área de estacionamento de cargas da região com capacidade para abrigar
até 3.500 caminhões. Lá os motoristas pagam uma taxa de R$ 35 pelas primeiras 6
horas, e R$ 2 por hora adicional. Um sistema de monitoramento dos terminais de
descarga no porto orienta a distribuição dos cargueiros.
No porto é rápido. Do pátio até o porto os caminhões
percorrem mais 22 quilômetros. O volume de cargas termina por provocar também
longas filas de caminhões na Anchieta e em ruas e avenidas da área urbana de
Santos, afetando da Ponta da Praia ao Valongo, passando pelo Centro, bairros da
zona do porto.
"Depois que a gente consegue entrar no pátio do
terminal, o descarregamento é rápido. Dura uma meia hora", explicou o
motorista Sonildo, que é casado, tem dois filhos, mora em Rio Verde, Goiás, e
está habituado às longas jornadas de asfalto e filas de descarga. Com 22 anos
de estrada, ele contou que já puxou soja também para o Porto de Paranaguá, no
Paraná. "Lá é mais desenrolado", afirmou.
No aperto, explicou ele, motoristas perdem tempo com
carga também na região de Jataí, perto do Alto Araguaia, no Mato Grosso.
"Já fiquei quatro dias no asfalto, numa estrada de 60 quilômetros, com
mato dos dois lados. Aqui até que nem está tão demorado", disse ele.
Na espera por uma vaga para entregar a encomenda, o
caminhoneiro é obrigado a virar "chef de meio-fio". Na longa espera,
o jantar, perto das 20h, foi preparado na calçada, na "cozinha"
improvisada por uma caixa fixada do lado direito da carroceria, próximo do
local no qual Sonildo amarra a rede. "Hoje foi arroz com carne",
contou ele à meia-noite quando avançava com seu caminhão algumas posições na
fila para a descarga.
Na estrada. Depois de 5 horas parado do lado de fora do
terminal de cargas da T-Grão, às 23h45 Sonildo conseguiu mover o possante, e
entrou no pátio.
Procurado para comentar o atraso, um diretor da T-Grão
disse que somente a presidência poderia falar. No escritório central, a
presidência não respondeu aos pedidos de entrevista.
Já no início da madrugada de quarta-feira, depois de 72
horas de chão e 31 horas de fila em Santos, finalmente, Sonildo descarregou.
"Agora vou dormir um pouco pra pegar a estrada de manhã. Tenho carga de
adubo em Guará (SP), amanhã (quarta-feira)", avisou.
Sonildo já estava na estrada, na quinta-feira à tarde,
quando o carreteiro Jorge Machado Pina, de 55 anos, chegou ao Ecopátio na
quinta-feira para tentar descarregar 32 toneladas de açúcar. No Ecopátio, à
beira da Rodovia Cônego Domênico Rangoni, o caminhoneiro, um ex-gerente de
logística de uma multinacional, repetia os protestos do colega. Com seu Scania
placas EVO 8711, de São Bernardo, carregado em Araraquara, onde vive com a
família (mulher e cinco filhos), ele chegou às 4h.
Bagunça. "Eu trabalhei dez anos como gerente de uma
empresa de logística.
Isso aqui não é logística. É só uma tentativa de
organizar uma bagunça", afirmou. "Logística é quando você marca hora
de descarga com tolerância máxima de 2 horas de margem para atraso",
declarou.
"Isso aqui é uma sequência de gargalos", disse
o caminhoneiro na cabine do moderno Scania, veículo controlado por um
computador de bordo que mede velocidade média, distribuição do peso da carga
por eixo, e informa ainda as arrancadas, marcha lenta, tempo de motor ligado -
e até dá notas sobre o desempenho do motorista ao volante.
Depois de percorrer mais de 380 quilômetros carregado a
uma velocidade média de 49 km/h, do Ceagesp de Araraquara ao Km 262 da Cônego
Domênico Rangoni, ele reclamava também do preço do pedágio. "Nesta viagem
gastei R$ 373,50 com pedágio. É um absurdo", disse.
Para o diretor de operações da Elog, Marcelo Biciato, é
preciso planejamento para uma solução para os acessos ao porto de Santos.
"Com esse movimento de carga fica difícil a situação", afirmou o
diretor da Elog na noite de quarta- feira, um dia de trânsito complicado na
região por conta do volume de caminhões.
De acordo com o diretor, quando o volume de cargas é
muito grande, o acesso ao porto trava. "E quando trava lá, eu não consigo
liberar os caminhões do Ecopátio", afirmou o diretor de operações.
Indicação: Prof. José Nivaldo Tornisiello
Fonte: O Estado de S. Paulo
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