A loja mais envolvente e estimulante
Consumidores não vão às lojas somente
por necessidade. Pontos de venda têm o poder de reinventar e dar valor a
produtos, gerar estímulos sensoriais, provocar emoção e promover experiências.
Para que as pessoas continuem querendo comprar em lojas, elas terão que ser
estimulantes e envolventes. Em segmentos ligados à moda, empresas como Uniqlo,
Zara, JCrew, Abercrombie e Nike investem em instalações, iluminação,
equipamentos e execução de produtos para que a loja estimule e emocione. Em
redes de alimentos como Wegmans, Whole Foods, Publix e Fairway Market, a
exploração, informação, degustação, qualidade do serviço e riqueza de
sortimento fazem a experiência de compra ser diferenciada.
A inovação permite que empresas
consigam reinventar produtos básicos e transformá-los em objetos de desejo.
Uniqlo, Gap, Target, Crate & Barrel, Williams Sonoma, Nike, agregam valor a
produtos básicos pelo cuidado com embalagens, cores, exposição, comunicação e a
execução disso em loja.
Inovações permitem que surjam novos
conceitos, como o da loja nova-iorquina Story. Ela foi concebida para vender
produtos que gravitam em torno de temas que se renovam a cada ciclo de 6 a 8
semanas. Cada estória traz um sortimento praticamente novo, o que atrai a
curiosidade dos clientes e estimula a compra por impulso. Os produtos são
consignados e a loja já atrai patrocinadores que entendem que o ponto de venda
permite realizar eventos e interação.
Segundo Rachel Shechtman, idealizadora
da marca, eles medem experiências por metro quadrado em vez de vendas por metro
quadrado, apesar da loja ser lucrativa. O modelo é similar ao da alemã Tchibo,
que combina cafeterias com linhas tematizadas que se renovam constantemente e
geram compras por impulso. Ou o modelo dos clubes de compras, dentre os quais a
Costco é o maior operador, onde básicos são complementados por ofertas de
linhas de alto valor agregado de marcas aspiracionais em ofertas relâmpago
constantes. Histórias, oportunidades, impulso e emoção permitem agregar valor à
loja física e mantê-la relevante.
7- A loja com mais serviços
O varejo será um negócio que irá além
de compra e venda de produtos, para entregar soluções. Isto passa pela
incorporação de serviços no modelo de negócios. De outro lado, serviços
descomoditizam a oferta e agregam valor à loja física. Na Best Buy o negócio
Geek Squad centraliza todos os serviços da loja – instalação, reparos,
pós-venda de informática e extensão de garantia. O negócio tem dinâmica própria
e já está sendo expandido para operações fora das lojas da Best Buy, inclusive
dentro de lojas da Target. A Apple sempre teve nos serviços parte fundamental
da oferta das lojas exclusivas da marca. Há treinamento, reparo, serviços
segmentados para pequenas empresas e seguros, o que tornam a loja o ponto de
referência na relação da marca com seus clientes.
A Walgreens, maior rede de drogarias
nos EUA que também controla a marca Duane Reade, vem instalando clínicas em
lojas, ampliando a oferta de alimentação pronta e de aplicação de vacinas. Em
algumas lojas urbanas dispõe até de salão de beleza.
8- A loja que personaliza
A tecnologia digital permite realizar
personalização de produtos, utilizando as lojas como elemento de interação.
Isto agrega valor, gera experiência e possibilita criar conexões emocionais com
os clientes. Nas lojas da Converse é possível customizar os tênis All Star,
criando-os no ponto de venda com o apoio de vendedores. A Nike vem evoluindo
seu modelo Nike ID, que além de customizações estéticas, permite mudanças na
tecnologia do calçado, que serão fabricados nas mesmas plantas que produzem os
modelos de linha, com prazos de entrega entre 3 e 5 semanas.
9- A loja mais competitiva
Consumidores não se importam com
canais ou com diferentes estruturas de custos. Eles enxergam produtos, marcas,
preços e pontos de venda e de_ nem suas escolhas em relação ao valor percebido
para cada transação. Porém o efeito showrooming adiciona pressão às lojas
físicas, que não podem escapar da inevitável comparação de preços.
A Best Buy assumiu uma política
denominada 30/30/30. Garante 30 dias de proteção do preço do produto caso
ocorram ofertas menores e estendeu o benefício para lojas virtuais – inclusive
Amazon.com; também permite a substituição ou devolução de produtos em prazo de
30 dias; por fim, oferece assistência telefônica gratuita durante 30 dias para
os produtos. As lojas físicas têm autonomia para acompanhar todas as ofertas do
site da empresa. A Target também lançou campanha ousada no final de 2012 para
seguir as ofertas de sites de grande porte. Lojas precisam ter uma melhor
gestão de estoques, contar com visibilidade de outros pontos de venda e canais
e flexibilidade para atender o cliente e converter vendas mesmo que não
disponham dos produtos.
Buscar um maior controle sobre os
produtos vendidos também é uma forma de preservar os canais. A Apple consegue
focar sua operação de varejo em serviço, relacionamento e experiência e o fato
de não ter que se preocupar com preços de produtos e equiparação de ofertas
simplifica a gestão nas lojas. Lojas de departamento vêm buscando ampliar a
penetração de marcas próprias e realizando acordos para ter exclusividade em
linhas de terceiros, como forma de descomoditizar a operação. É o caso da
Nordstrom com Top Shop, JC Penney com Joe Fresh e Macy’s com Mango.
De qualquer forma, as lojas físicas
precisam dispor de um maior arsenal tecnológico, delegação e condições de
manterem sua competitividade para não tornarem-se meros espaços de exibição de
produtos.
10- A loja integrada ao mundo digital
O varejo omnichannel amplia e integra
sinergicamente canais físicos e digitais para ampliar o alcance e relevância da
marca na relação com seus clientes. A internet entra nas lojas – pelos clientes
e pelas ferramentas disponibilizadas pelas empresas; as lojas conectam-se ao
mundo digital.
A Ann Inc., empresa controladora das
marcas Ann Taylor e Loft, já realiza cerca de 30% das vendas dos canais de
lojas tradicionais (que excluem outlets) via internet. A empresa já integra todos
os estoques dos vários pontos de venda, implantou quiosques em lojas para
acessar sortimento e disponibilidade do e-commerce. Além disso, permite comprar
online e retirar em lojas.
A Best Buy permite visualizar a
disponibilidade de estoques em todas as lojas. O cliente pode comprar online e
retirar em loja, pode reservar um produto em outra loja, solicitar
transferência ou comprá-lo para entrega a domicílio.
A Nike vem avançando em sua parceria
com a Apple e a incursão no mundo digital. Permite monitorar desempenho,
compartilhar planilhas e resultados em redes sociais e criar efeito viral no
uso de seus produtos.
Estudo da Deloitte apurou que o uso
de internet dentro das lojas por meio de aparelhos móveis aumenta a taxa de
conversão em 14%. Diversas lojas disponibilizam wifi gratuito e aplicativos que
permitem comparar preços e localizar produtos.
A Macy’s começou a usar o excedente
de estoque das lojas como base de entrega de compras via internet. Já há
trezentas lojas integradas, que representam 10% dos pedidos do comércio
eletrônico. Com isso, a empresa consegue usar os canais digitais para escoar
excedente de estoques nas lojas físicas sem ter que remanejá-los. O Walmart já
está estudando utilizar seus supercenters como parte da infraestrutura de entrega
de pedidos de comércio eletrônico. A Tesco, rede inglesa que é o maior
varejista de alimentos online no mundo, sempre utilizou as lojas como parte do
modelo de entrega.
A iniciativa Magazine Você, pela qual
o Magazine Luiza transforma clientes em agentes de venda por meio de lojas no
Facebook conectadas com a plataforma de comércio eletrônico da empresa, já
alcançou a marca de 55.000 lojas abertas.
A empresa americana CrossView
realizou estudo em 2012 com varejistas multicanal, para avaliar o grau de maturidade
deles em relação a práticas de integração de canais. Foram realizadas análises
comparativas, segmentando os dez maiores. Neste caso, 80% permitem acessar
disponibilidade de estoques do canal online em lojas; já 60% permitem verificar
disponibilidade de estoques em lojas a partir de sites móveis e 70% permitem
retirar em lojas pedidos realizados online.
Portanto, pensar a loja do futuro
significa moldar a organização de varejo do futuro. Nela não haverá lojas
físicas e virtuais, mas uma marca, com múltiplos pontos de contato, canais de
comunicação, relacionamento e venda.
As lojas serão convenientes,
interativas, envolventes, sustentáveis, agregarão mais serviços, terão maior
autonomia e poder de decisão. E o jogo será definido pela capacidade de execução,
dia a dia, em todas as lojas – físicas, digitais, móveis, ou o que vier pela
frente.
Alberto Serrentino (aserrentino@gsmd.com.br), sócio sênior da
GS&MD – Gouvêa de Souza.
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