O processo sucessório em uma empresa familiar deve ser planejado levando-se em consideração as particularidades de cada grupo familiar e empresarial. Isso implica observação e análise contínuas, pois nem todos os sucessores do grupo familiar terão aptidão e/ou interesse para assumir a empresa. Definidos os interessados pela gestão dos negócios (que não é glamorosa, já que exige muitas horas de trabalho e dedicação no enfrentamento diário das muitas demandas administrativas) passa-se a um segundo momento, que é o de permitir, no caso de empresas com mais de um sucessor, que as escolhas individuais sejam feitas de acordo com as áreas organizacionais que melhor serão atendidas por cada perfil, e esse seguramente é o maior desafio do processo de sucessão.
É muito importante, portanto, nessa preparação dos sucessores, o contato com os anseios dos clientes, a construção de relacionamentos com os parceiros de negócios, a manutenção da união entre eles e a abertura de diálogo com o público interno, a fim de manter a força da empresa no mercado. As divergências entre gerações são saudáveis, mas somente à medida que houver respeito, admiração e compartilhamento de ideias voltadas à preservação da cultura organizacional. Esse elo entre os sucessores precisa se construir de modo indissolúvel, pois a empresa é o bem coletivo que deverá estar sempre acima dos egos individuais, o que exige formação emocional e profissional.
Mesmo que haja algum tipo de miopia dos diretores em início de sucessão, os gestores mais experientes estarão presentes para fomentar o desenvolvimento dos mais jovens por meio da teoria do mentoring. Nesse aspecto, a sucessão familiar é bastante vantajosa aos mais jovens, já que os pais lhes darão o melhor de seu aprendizado, coisa que nem sempre é feita em outros modelos sucessórios. O sucessor precisa desafiar-se, lançar-se com atitude e determinação, ousar dentro dos limites da saúde financeira da empresa, construir seu próprio legado, afinal, geralmente parte de um patamar muito superior ao dos que que iniciaram os negócios. Autoconfiança sem arrogância, autoestima sem desmerecimento do outro, humildade sem inferioridade e autoconhecimento sem procrastinações são bons companheiros dos sucessores.
Os herdeiros devem, ainda, ser conscientizados de que não vão herdar uma empresa, mas uma sociedade composta por pessoas e por processos que não se escolheram. Assim, é preciso separar os conceitos de família, propriedade e empresa. Durante esse processo, deve-se estabelecer diálogo para tratar dos conflitos já existentes e dos que podem surgir, portanto, durante o plano sucessório não abram mão de construir um plano de ação com base no DPEC (Diagnosticar, Planejar, Executar e Checar), objetivando regras claras sem prescindir do profissionalismo de toda a linha sucessória e das demais lideranças para a administração dos negócios, nem de traçar objetivos cujas metas traduzam o sentimento da alta direção para a linha sucessória, a fim de preservar a cultura organizacional dentro de uma visão de futuro em curto, médio e longo prazo. Além disso, ajam com transparência para, assim, garantir o sucesso da continuidade dos negócios, assegurando a sobrevivência da Empresa junto aos colaboradores, ao mercado e a seus stakeholders.
Jornal O Povo – 16/03/2016
Honório Pinheiro presidente@cndl.org.br
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