Corpo de Bombeiros faz vistoria e encontra irregularidades; neste ano, foram cinco incêndios no Centro
Das
2.081 lojas fiscalizadas pelo Corpo de Bombeiros do Ceará no Centro da
Capital, apenas 15 estavam dentro das normas de segurança contra
incêndio, o que representa apenas 0,7% dos imóveis compreendidos entre a
Rua João Moreira (norte), Avenida Duque de Caxias (sul), Rua Governador
Sampaio (leste) e Avenida Imperador (oeste).
Muitos
imóveis do bairro apresentam fiação irregular, sobrecarga de aparelhos
elétricos em uma única tomada, armazenamento errado de produtos e
ausência de extintores, o que favorece incidentes Foto: Rodrigo Carvalho
Os
números foram obtidos por meio do Programa Patrulha da Prevenção, uma
iniciativa do Corpo de Bombeiros, que tem como parceiras a Câmara de
Dirigentes Lojistas (CDL) de Fortaleza, a Companhia de Água e Esgoto do
Ceará (Cagece) e a Secretaria Executiva Regional do Centro (Sercefor). O
trabalho de vistoria foi realizado em março e abril deste ano.
Fiação
irregular, sobrecarga de aparelhos elétricos em uma única tomada,
armazenamento errado de produtos e ausência de extintores, hidrantes e
para-raios caracterizam os estabelecimentos comerciais do principal
quadrilátero do Centro. O cenário, favorável a incêndios, coloca em
risco a vida de milhares de pessoas que frequentam o lugar diariamente.
Conforme
o Corpo de Bombeiros, em 2012, já foram registrados cinco incêndios de
grande complexidade somente no Centro de Fortaleza, número igual ao
total de 2011, em que também foram contabilizadas cinco ocorrências de
média a grande proporções.
"A situação é preocupante, e mostra
que o Centro é, verdadeiramente, uma bomba-relógio quando falamos em
risco de incêndios", afirma o capitão Giuliano Rocha, comandante do
Programa Patrulha da Prevenção.
Orientações
De acordo com
ele, grande parte dos comerciantes em situação irregular estão
procurando o Corpo de Bombeiros a fim de receber orientações para
reparar os erros. A expectativa é de que, no começo de julho, seja
iniciado um curso gratuito de brigada de incêndio no Centro, cuja turma
será formada por funcionários das lojas do quadrilátero fiscalizado pelo
órgão.
"No fim do treinamento, que vai durar um mês, vamos fazer
um balanço de quem se adaptou às normas de segurança para, a partir
daí, pensarmos nas medidas cabíveis para aqueles que continuarem
colocando a vida das pessoas em risco", informa o capitão, dizendo que
existem 220 hidrantes públicos na Capital e região metropolitana.
Destes, 25 estão no Centro, número considerado suficiente pelo Corpo de
Bombeiros.
Na Rua Governador Sampaio, caminhões estacionam a todo
momento para descarregar pilhas de materiais diversos em
estabelecimentos antigos, onde é possível perceber a ausência de
estrutura física.
"Acho que a fiscalização do Corpo de Bombeiros é
válida. Estou disposto a entrar dentro das normas de segurança e
prevenir o pior", considera Manoel de Sousa, 58, gerente de uma loja de
materiais elétricos situada naquela via.
OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Situação preocupa e põe vidas em risco
Teresa Neumann
Pres. do Sindicato dos Engenheiros do Ceará
Neste
ano, apresentei um projeto de lei à Câmara Municipal de Fortaleza no
sentido de o poder público conscientizar e prevenir os moradores de
incêndios. O projeto já foi promulgado e aguarda a publicação no Diário
Oficial do Município.
A gente precisa entender que esses
sinistros não vêm de agora e, na maioria das vezes, vão além dos imóveis
atingidos, atingindo outros estabelecimentos. Por sorte, estamos tendo
apenas prejuízos econômicos, mas o que está em risco são as vidas das
pessoas.
O fato de a principal área do Centro de Fortaleza ter
apenas 0,7% dos imóveis dentro das normas de segurança contra incêndio é
um absurdo. O adensamento é muito grande. Mas, esse problema também
pode ser verificado em imóveis de atividade residencial, inclusive em
prédios públicos, que não passam por manutenção. São muitos os perigos,
como fachadas de lojas produzidas com materiais altamente inflamáveis,
medidores expostos nas ruas, nos postes e ambulantes que utilizam
energia de forma ilegal, fazendo "gambiarras".
Isso sem falar no
número de hidrantes nas ruas, que são insuficientes. No Centro, só
existem 25. Grande parte das lojas, antigas e sem estrutura, não têm
seguro contra incêndio, o que deixa a situação ainda pior.
Bombeiros já contam 793 incêndios neste ano
Em
2011, o Corpo de Bombeiros do Ceará registrou 3.873 incêndios em
Fortaleza e região metropolitana. Destes, 1.068 estão relacionados à
incêndios residencial unifamiliar, multifamiliar e acidentes em
edificações comercial e industrial. Em 2012, a órgão já contabilizou 793
casos, sendo 218 ligados aos tipos de incêndio citados anteriormente.
O
último incidente de grandes proporções aconteceu na quinta-feira
passada, numa loja e depósito de material de confecção localizada na Rua
Elvira Pinho, nº 747, no Montese.
Na manhã de ontem, os
bombeiros foram novamente ao lugar para apagar os focos de fogo que
ainda resistiam debaixo das placas de concreto. Por volta de meio-dia,
agentes da Defesa Civil de Fortaleza também estiveram lá para vistoriar e
orientar as famílias dos sete imóveis atingidos pelo incêndio.
Perigo
"Apenas
uma casa estava em risco iminente de desabar, mas o morador já saiu do
local", diz o agente Igor Torres Mourão. Ele também informa que uma das
paredes da loja, que estava para cair, foi demolida.
Desolado, o
esposo da proprietária do estabelecimento, José Cláudio Gonçalves, 42,
assegura que a caixa de energia era desligada toda noite, por isso não
acredita que o incêndio tenha sido causado por curto circuito. Parte dos
15 funcionários foram ao local para colher o material que poderia ser
aproveitado, mas só sobraram as ferragens que estavam fora do galpão.
RAONE SARAIVA
REPÓRTER
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