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quinta-feira, 13 de junho de 2013

A condição essencial para empreender


Atitude é a palavra-chave para transformar a realidade

Por Marcella Maria Thomaz Monteiro de Barros Teixeira Coelho 

A condição sine qua non (“sem a/o qual não pode ser”) para empreender, na minha visão, é a atitude. É necessário ter uma atitude empreendedora independentemente de haver suporte, capacitação, mentores, investidores, formação, apoiadores. Claro que um ecossistema favorável é desejável e relevante – e que lutamos para que isso aconteça no Brasil. Contudo, o ecossistema não é capaz de gerar empreendedores espontaneamente. A única condição 100% essencial é, de fato, a atitude.

Em 2000, quando a Endeavor surgiu no Brasil, a palavra “empreender” não estava no dicionário brasileiro. Isso explica os motivos pelos quais fizemos, em 2008, uma campanha para explicar esse conceito. Optamos por utilizar uma expressão bastante simples: empreender é botar pra fazer. De maneira singela, sem nenhuma sofisticação técnica e diretamente ao ponto, propagamos o conceito de que empreendedor é a pessoa que tem atitude para transformar ideias em realidade.

Afinal, o empreendedor é quem questiona a realidade, inspira a inovação, identifica oportunidades e busca os recursos para transformá-las em realidade. Enfim, ele é o motor da mudança.

No final de maio de 2013, tivemos a honra de receber no Brasil Muhammad Yunus, um banqueiro que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2006. A trajetória desse empreendedor reforça a importância da atitude, desde que ele emprestou os primeiros 27 dólares, na vila em que morava, até quando, algumas décadas depois, o microcrédito se espalhou como uma solução para a redução do ciclo da pobreza por meio do empreendedorismo. Atitudes como essa transformam a humanidade e impactam positivamente a vida de milhares de pessoas.

Em uma de suas palestras no Brasil, as pessoas da plateia fizeram muitas perguntas, em geral mostrando erudição e conhecimento sobre o tema abordado no evento. Mas o comentário que visivelmente emocionou Yunus veio de um homem simples, que relatou a sua história empreendedora. Ele começou a desenvolver ações em uma pequena vila do interior de São Paulo com o intuito de transformar a realidade local. Esse sujeito assumiu humildemente, diante de uma plateia de 500 pessoas, com integridade e coragem, que algumas coisas estavam indo bem, e várias outras, nem tanto. Ele demonstrou atitude empreendedora ao tentar – e ao assumir que uma dose de fracasso faz parte de todo o processo. Mesmo com todos os percalços, ele persiste e empreende a história da sua comunidade.

Fiquei impressionada como, diante de uma grande plateia, ele não quis se mostrar 100% forte e vitorioso. Sua maior virtude estava justamente na exposição da vulnerabilidade. Tem algo que demonstra mais força do que não ter medo de mostrar fraqueza?

Para complementar as inspiradoras e entusiasmadas experiências do mês de maio, encontrei no aeroporto Ozires Silva – empreendedor, fundador da Embraer e grande inspiração. Ele é um homem idoso na carteira de identidade, mas é muito jovem de espírito. Encara com leveza e muita alegria uma jornada de trabalho de 12 horas. Por quê? Dinheiro, status, fama, reconhecimento? Isso tudo ele já tem. Mas o que não o deixa parar? A ideia de empreender e deixar um legado, empreender para transformar o Brasil.

Quando o questionei sobre o que o motiva, ele respondeu: “Não empreendi para ser o homem mais rico do cemitério. Empreendo até hoje para transformar. Não existe remuneração financeira que compense a satisfação de ter os nossos aviões em 90 países e uma empresa com 20 mil funcionários”.

Ou seja, a essência e o fio condutor da vida destes e de muitos empreendedores é a atitude. Para Ozires, as formas de atuação ao longo da vida podem ter mudado. Antes ele criava empresas ou atuava no alto escalão delas. Atualmente, ele inspira pelo exemplo, por meio de palestras, discussões e articulações.

Mas o que fica? A atitude! Atitude para questionar, para mudar. Yunus também criou o microcrédito na década de 70 e, atualmente, fala sobre questões diversas, sobre negócios sociais. Mas a essência é a mesma: atitude empreendedora para que um dia possamos criar o museu da pobreza. Para que as próximas gerações não convivam com pessoas que sofrem pela falta de recursos básicos de sobrevivência.

E a primeira de todas as atitudes é empreendermos a nossa história. Podem nos tirar absolutamente tudo, os fatores externos podem não ser estimulantes ou favoráveis, mas, se nos mantivermos despertos, com a capacidade de sonhar, os fatores internos serão os propulsores da nossa realização.

Fonte: PEGN

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