MULTINEGÓCIO
24.05.2015
Honório Pinheiro saiu de uma mercearia para uma rede de 11 lojas ao inovar e diversificar o atendimento ao público
Diferencial do Pinheiro Supermercado se dá no atendimento ao cliente
FOTOS: BRUNO GOMES
A redução de custos, acrescenta Pinheiro, deve ser outra estratégia neste período, em que tanto a política como a economia estão conturbadas
Todo grande negócio - ou pelo menos a maioria deles - nasce de uma inquietação empreendedora, como uma intuição que instiga percepções além do comum. A inspiração do empresário cearense Honório Pinheiro veio, contudo, acrescida de alguns valores peculiares, como a necessidade de se reinventar e a preocupação em ter um bom relacionamento com a vizinhança, princípios que foram fundamentais não apenas para o sucesso do próprio negócio, o Pinheiro Supermercado, mas também para mudanças significativas no varejo do Estado do Ceará.
"Não tenho dinheiro, tenho ideias", diz ele, que também é presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), cargo assumido no início deste ano. Essa vocação de Pinheiro para o comércio começou a ser construída ainda na infância, vivida em Solonópole, no Interior do Estado, compartilhando a rotina de feirante do pai, Joaquim Honório Alves.
"Esse viés, essa ginga de comércio, eu absorvi dele", conta. Aos 16 anos, Honório veio estudar na Capital, acompanhado do irmão, Bosco Pinheiro, que tinha 12 anos. Permeada de dificuldades, a vinda dos dois jovens representa também um momento de superação para os irmãos, que conseguiram seguir a rotina de estudos, entrar no mercado de trabalho e buscar sempre novas oportunidades.
"Em paralelo ao nosso trabalho, sempre fomos para as feiras; em dias de jogos, a gente colocava bar perto do estádio. A gente era inquieto nessa questão de construir mais e ter o próprio negócio", diz Honório.
O início do supermercado
Em 1979, os irmãos decidiram trazer os pais para Fortaleza e montar um pequeno negócio que ficaria sob a responsabilidade do pai, no bairro Pan Americano. Das vendas no balcão, o mercadinho foi crescendo e ganhando a atenção de Honório, até que ele resolveu abrir mão do emprego e enveredar, de vez, pelo ramo do comércio.
"Eu fui trabalhar com todas as realidade de um pequeno negócio, indo para a Ceasa (Centrais de Abastecimento do Ceará - S/A), fazendo compras", relembra. Em seguida, foi o irmão que abraçou o mercadinho, que abandonou o diminutivo e se consolidou como rede de supermercados. A expansão começou em bairros vizinhos, como Vila Manoel Sátiro e Maraponga, e assim, a pequena mercearia converteu-se em uma rede que hoje possui onze lojas, sendo cinco em Fortaleza e seis distribuídas pelo Interior.
A migração para outros municípios, segundo Honório, foi impulsionada, principalmente, pelas modificações do mercado. "Com a chegada dos players internacionais na Capital, foi diminuindo espaços para os menores. Foi então que tivemos a nossa primeira experiência, em Quixadá", lembra, reforçando que o investimento foi alicerçado na "velha intuição varejista".
A inovação
A atuação do Pinheiro Supermercado no Interior do Estado, aliás, é um capítulo importante na história de Honório. Pioneiro na migração para outros municípios entre os supermercados cearenses, ele superou empecilhos comuns aos pequenos negócios, como a logística, o comportamento do público e até o tipo de crédito usado pelos clientes.
"Eles tinham o costume da caderneta, que nós não podíamos praticar por conta da nossa estrutura. E até 14 anos atrás, no Interior, eles não conheciam certos produtos da linha de lactos, chocolates e comidas prontas", resgata da memória.
Outro destaque é modelo comercial que Honório criou, implantando, junto das lojas, serviços como restaurantes, parques infantis e até cinemas próprios.
"Como varejistas, nós entendemos que as pessoas buscam se deslocar para onde têm um melhor atendimento", justifica o presidente da rede. A ideia de apostar nas salas de cinema, um dos investimentos mais emblemáticos e bem sucedidos ligados ao supermercado da rede, veio da necessidade dar uma característica única às lojas. Hoje, são sete salas de exibição dividas entre Sobral, Limoeiro do Norte, Quixadá e Itapipoca, com lançamentos do circuito nacional.
"Isso nos diferenciou porque a comunidade passou a ter um olhar diferente para a gente, não apenas como quem explora comercialmente, mas contribui culturalmente (com o público local)", conclui Honório. O bom relacionamento com a comunidade, aliás, é um dos princípios que guia a administração dos supermercados, e justifica a assinatura da marca, "o bom vizinho". "A mamãe sempre nos ensinou que é muito bom ter um bom vizinho, e pelo fato de sermos do Interior, a gente sabe como isso é importante", defende.
Expansão contínua
Ainda no primeiro semestre deste ano, a rede Pinheiro deve inaugurar mais um empreendimento, em Aracati, no Litoral Leste do Estado. Mas, desta vez, será um shopping, o qual vai contar, além do supermercado - negócio âncora de toda a rede -, um restaurante e duas salas de cinema, e mais outras 30 lojas e praça de alimentação.
Aliando a característica sonhadora e desbravadora do cearense à criatividade necessária ao comércio varejistas, Honório Pinheiro promete ir ainda muito mais longe, sem esquecer das raízes e das ligações com seu público alvo. "Eu sempre tive um sonho de contribuir para o plural, e ainda estou acreditando que farei muito mais daqui pra frente", garante.
Criatividade e fortalecimento são as saídas para a crise
Completando cinco meses desde que assumiu a presidência da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), o empresário e também presidente do Pinheiro Supermercado, Honório Pinheiro, acredita que é possível sim, para o setor, ultrapassar a crise econômica de que tanto se fala atualmente, e já traça o caminho para isso: reiventar-se e fortalecer a classe.
"O varejo se reinventa com promoções, novidades, sendo criativo. Mesmo vendendo menos, consegue manter algumas margens, e é nessa linha que estamos trabalhando", explica.
A redução de custos, acrescenta Pinheiro, deve ser outra estratégia neste período, em que tanto a política como a economia estão conturbadas. Já o fortalecimento do associativismo comercial, defende o presidente da CNDL, contribui para dar notoriedade aos negócios.
"Juntando as empresas de mesmo porte, elas podem treinar as pessoas e fazer determinadas compras juntas", orienta, sobre como agir no mercado.
Para além da crise econômica, que, espera-se, tenha efeito mais passageiro, o varejo cearense tem outros obstáculos a ultrapassar, de acordo com a análise feita pelo empresário.
Desafios dos cearenses
"Os desafios do varejo cearense são o reconhecimento, a capacitação e a aquisição de crédito", lista, em ordem de prioridade. O reconhecimento, explica, passa pelos incentivos que ainda não chegaram e pela reformulação da legislação tributária, em nível federal, estadual e municipal, para a atividade que "mais produz resultados socio-econômicos".
A dificuldade na capacitação dos profissionais, problema sentido também em escala nacional, segundo Pinheiro, ganha maior peso devido aos custos exigidos para as melhorias. "A tecnologia exigida para o varejo é muito cara. "Temos dificuldades enormes na aquisição de crédito, porque detemos os juros mais caros do mundo", pontua.
Prioridades
À frente da CNDL, o empresário estabeleceu, entre as prioridades da gestão, "desburocratizar as atividades do comércio, melhorando, principalmente, a vida do pequeno e microempresário, que sustenta o Brasil". "Queremos ser lembrados como a gestão que construiu algo mais duradouro", projeta.
Além disso, ele pretende captar os anseios e necessidades do setor, por meio de uma pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral. "Um dos meus maiores objetivos é fazer com que o comércio esteja unido, porque, é clichê, mas a união é que faz a força", atesta.
Jéssica Colaço
Repórter