Em
 qualquer setor, o crescimento das receitas das empresas, eventualmente,
 diminui. Varejistas não são exceção. Consumo instável, concorrência 
intensa, mudanças no mercado e a rápida invasão do varejo online 
combinam-se para pressionar as receitas. O cemitério do varejo está 
cheio de redes como a Circuit City, a Austin Reed, a Linens’n Things, a 
Loehmann’s, a British Home Stores, a RadioShack e a Sports Authority, 
que se expandiram rapidamente, mas, diante do declínio do crescimento, 
não encontraram uma forma de mudar o rumo.
O que o varejista deve fazer quando o crescimento diminui? Isso 
representa uma condenação, ou há uma maneira de prosperar quando o 
negócio amadurece? Para responder a estas perguntas, examinamos os dados
 financeiros de 37 varejistas nos Estados Unidos com vendas recentes de 
pelo menos US$ 1 bilhão e cuja taxa de crescimento anual de receitas 
desacelerou para um dígito. Alguns desses varejistas haviam sofrido 
queda no lucro ainda mais rápida que nas receitas; outros conseguiram 
aumentar o lucro para dois dígitos e tiveram rendimentos acima da média 
na bolsa.
Nossa análise mostrou que os varejistas de menor sucesso continuaram a
 buscar o crescimento, abrindo novas lojas muito depois do ponto de 
retorno decrescente. Em contraste, varejistas bem-sucedidos reduziram 
drasticamente a expansão para realizar, em vez disso, melhorias 
operacionais nas lojas existentes capazes de aumentar as vendas. Assim, 
foi possível aumentar as receitas mais rapidamente do que as despesas, 
com um impacto positivo poderoso sobre os lucros.
A estratégia pode parecer simples, mas ela não é seguida pela maioria
 dos varejistas por três motivos. Primeiro, porque Wall Street e a 
cultura capitalista celebram — e exigem — crescimento. Na verdade, 
crescimento lento é algo considerado como doença ou defeito moral. 
Quando confrontadas com o declínio do crescimento, as empresas são 
instadas a voltar para a prancheta, repensar o negócio e bolar uma nova 
estratégia para aumentar as rendas. Segundo, os líderes de muitas redes 
de varejo não sabem o momento de fazer a transição. Consequentemente, 
continuam a expansão até suas redes começarem a desmoronar sob o próprio
 peso. E, em terceiro lugar, empresas em crescimento e empresas maduras 
exigem estratégias operacionais muito diferentes. Muitas empresas com 
ótimo crescimento não são capazes de fazer essa mudança.
Neste artigo, explicamos quando o crescimento lento faz sentido, 
fornecendo métricas que podem ajudar os varejistas a determinar quando e
 como passar do alto crescimento para uma estratégia de baixo 
crescimento. Oferecemos também uma estrutura para a criação de uma 
estratégia de baixo crescimento que lhes permita aumentar as receitas 
mais rápido que as despesas alavancando recursos existentes. Fazendo 
isso, a empresa pode permanecer na fase de maturidade por um tempo muito
 longo, adiando o declínio. Embora nosso foco aqui seja o setor de 
varejo dos Estados Unidos, esperamos que empresas de outros setores 
possam aproveitar as lições mais gerais.
Quando o crescimento para
O ciclo de vida do varejo segue uma curva “S” clássica. Empresas 
bem-sucedidas crescem rapidamente em seus primeiros anos, abrindo lojas e
 penetrando em novos mercados. Uma vez explorados os locais mais 
atraentes, elas agregam lojas em locais cada vez menos atraentes. 
Conforme sua rede de lojas se torna cada vez mais densa, lojas novas 
começam a canibalizar as vendas das já existentes, reduzindo o ganho de 
vendas líquidas para toda a rede.
A Walmart seguiu esse padrão ao pé da letra. No ano fiscal que 
terminou em 31 de janeiro de 1968, suas 24 lojas geraram US$ 12,6 
milhões em vendas e US$ 482 mil em lucro líquido. No ano fiscal de 1988,
 tinha 1.198 lojas, vendas de US$ 16 bilhões e lucro líquido de US$ 
627,6 milhões. A taxa de crescimento anual composta (CAGR, na sigla em 
inglês) de suas receitas e ganhos para o período de 20 anos foi 
exatamente a mesma: 43%. Isso ilustra que a criação de valor na fase de 
crescimento vem do aumento de escala, não necessariamente do aumento da 
lucratividade. Mas o crescimento não pode continuar para sempre. (Se a 
Walmart continuasse crescendo a essa taxa, suas receitas em 2015 teriam 
chegado a US$ 246 trilhões, mais do que três vezes o PIB mundial!) Os 
dados mostram que em 2006 lojas novas começaram a canibalizar as vendas 
das lojas existentes e a Walmart estava entrando na fase de maturidade. 
Portanto, não é de estranhar que o crescimento de receitas tenha 
diminuído, caindo para um CAGR médio de 2,7% no período entre 2011 e 
2015. A Walmart opera em mais de 30 países, e, evidentemente, as taxas 
de crescimento diferem em cada um, mas isso não refuta o fato de que sua
 taxa de crescimento global recente foi de apenas um dígito — e baixo.
O objetivo do nosso estudo era avaliar as consequências da parada do 
crescimento para os varejistas. Examinamos dados financeiros divulgados 
publicamente de 37 varejistas americanos cujas vendas recentes foram de 
pelo menos US$ 1 bilhão e cujo crescimento de vendas de 2011 a 2015 
havia caído para um único dígito. (Excluímos empresas com crescimento 
superior a 10% ao ano que ainda não haviam atingido a maturidade e 
aquelas com crescimento negativo de vendas que estavam claramente em 
declínio.) Em seguida, dividimos as empresas em dois grupos com base no 
desempenho de 2011 a 2015: aquelas com média anual de retorno total do 
acionista (TSR na sigla em inglês) de 12,4% ou mais, incluindo retorno 
de ações, dividendos e desdobramentos de ações — o que equivale ao TSR 
médio anual do índice S&P 500 nesse período —, e aquelas com retorno
 abaixo da média.
Os dados mostram claramente que a desaceleração do crescimento pode 
gerar estagnação: o lucro operacional das 20 empresas de baixo 
desempenho cresceu apenas 0,9% ao ano, em média, e sua média anual de 
TSR foi de apenas 2,8%.
Mas os 17 varejistas bem-sucedidos demonstram de forma igualmente 
persuasiva que é possível prosperar com um modesto crescimento de 
receitas. O lucro operacional dessas empresas cresceu 8% ao ano, em 
média — mais de oito vezes a taxa das que não foram bem-sucedidas — e 
sua média anual de TSR foi um colossal 21,9% no período de cinco anos. É
 quase o dobro da taxa de crescimento da S&P 500. 
Para entender o que diferenciava as empresas mais bem-sucedidas das 
empresas de baixo desempenho, examinamos suas informações públicas e 
entrevistamos executivos atuais e antigos da Dillard, Foot Locker, Home 
Depot, Kroger, Macy’s e McDonald’s. Apesar de serem empresas muito 
diferentes — alguns varejistas são diversificados (como a L Brands), e 
alguns têm operações em muitos países (como a McDonald’s) — encontramos 
entre elas semelhanças notáveis de abordagem.
Use as métricas corretas
No varejo, ninguém o avisa quando o crescimento rápido de sua cadeia 
chega ao fim e você precisa adotar uma nova estratégia para a fase de 
maturidade. Para detectar quando se deve começar a fazer a transição do 
crescimento rápido para o crescimento lento, é necessário acompanhar as 
métricas certas. 
À primeira vista, o momento de fazer a mudança parece óbvio: quando a
 produtividade das lojas novas diminui tanto que o investimento na 
abertura de novas lojas prejudica o resultado final em vez de ajudar. 
Mas saber exatamente quando lojas novas começam a dar prejuízo não é 
fácil. Leva tempo para uma loja nova amadurecer e, portanto, vendas 
iniciais não indicam necessariamente vendas futuras. Além disso, fatores
 atenuantes, como recessão econômica ou desastres naturais, podem ter 
enorme impacto temporário sobre as vendas. 
Nosso estudo revelou um indicador confiável para o momento de 
retardar o ritmo de expansão do varejo: o retorno sobre o capital 
investido (ROIC na sigla em inglês). Não por acaso, a pesquisa mostrou 
que essa métrica está fortemente correlacionada com a valorização a 
longo prazo do preço das ações. Para os varejistas, o ROIC é a razão 
entre o lucro operacional ajustado (lucro operacional mais despesa de 
aluguel da loja nova) e o capital investido médio (soma dos 
investimentos em propriedades e equipamento, leasing financeiro e contas
 a pagar). Para calcular o ROIC de uma nova loja, o varejista precisa 
prever quatro coisas: as vendas da nova loja ao longo do tempo, as 
despesas operacionais, os investimentos de capital necessários e quanto a
 nova loja vai canibalizar as vendas de lojas próximas. 
Muitas de nossas empresas-modelo — como a Foot Locker, a Home Depot, a
 Kroger, a Macy’s e a McDonald’s — controlam o ROIC e respeitam piamente
 taxas de barreira relativamente altas para novas lojas (a taxa mínima 
de retorno que se espera de um novo investimento). 
Alguns varejistas, no entanto, ignoram os requisitos de capital para 
novas lojas e se concentram apenas no crescimento dos lucros. Isso pode 
levar a más decisões. Karen Hoguet, CFO da Macy’s, disse-nos que ficou 
surpresa quando um concorrente começou a abrir novas lojas em locais que
 a Macy’s havia rejeitado. Mais tarde, descobriu que o concorrente 
baseara suas decisões em projeções de crescimento de lucro por ações em 
vez de retorno sobre capital investido. As lojas novas não deram certo. 
“Tínhamos razão”, observou ela. “Não eram boas lojas.” 
Além do ROIC, recomendamos aos varejistas monitorar outras duas 
métricas. A primeira é a receita por loja, que é simplesmente a receita 
total de um ano dividida pelo número de lojas. A segunda é a receita 
adicional estimada por nova loja, que é a diferença entre as receitas 
reais totais e as receitas estimadas de lojas existentes que teriam sido
 alcançadas se nenhuma loja nova tivesse sido aberta, dividida pelo 
número de lojas novas. 
Para calcular a receita estimada de lojas existentes, pegue a receita
 do ano anterior e adicione o aumento na venda de lojas comparável (o 
aumento de receita das lojas que ficaram abertas por pelo menos 12 meses
 antes do atual ano fiscal, conhecidas na indústria como “comps”, que 
apresentaram as demonstrações financeiras de varejo) e adicione uma 
estimativa de canibalização de lojas existentes em virtude das lojas 
novas — perda de receita que seria evitada se não fossem abertas novas 
lojas. A Walmart é uma das varejistas que rastreiam e reportam o efeito 
de canibalização.
Varejistas experientes podem usar as três métricas para detectar 
sinais de que devem desacelerar a abertura de novas lojas. Se uma 
empresa tem uma quantidade significativa de operações internacionais, 
deve usar o valor que teria sido atingido durante um ano sem flutuações 
de câmbio. Alternativamente, o varejista que opera em outros países 
calcularia essa métrica usando a moeda do país. 
Pare de abrir novas lojas
Feito o rastreamento das três métricas que acabamos de descrever, os 
gerentes perceberão quando novas lojas em determinada cadeia e em 
determinado país passam a ter impacto negativo sobre a receita total e 
sobre o ROIC. Quando chega o ponto em que todas, ou a maioria, das 
opções de expansão têm ROIC inaceitável, é hora de diminuir a velocidade
 de abertura das lojas — ou parar completamente.
Ambos os grupos de varejistas em nosso estudo diminuíram sua taxa de 
abertura de lojas entre 2000 e o período de 2011 a 2015. Mas os 
varejistas com desempenho acima da média no mercado de ações diminuíram 
suas taxas ainda mais: eles adicionaram apenas 2% mais lojas por ano, 
enquanto os varejistas abaixo da média adicionaram 4,4%.
Sabemos quanto é difícil para o varejista que passou décadas com alto
 crescimento desligar a máquina de abertura de nova lojas. Ele 
geralmente conta com uma grande equipe dedicada ao planejamento e 
gerenciamento dessa atividade. Em toda empresa os funcionários sentem a 
euforia de produzir crescimento de dois dígitos ano após ano e temem a 
possibilidade de que a desaceleração possa eliminar, também, as 
oportunidades de avanço. Incessantemente, consultores variados encorajam
 gerentes seniores a não mudar de estratégia, mas sim a redobrar os 
esforços para retomar o crescimento. Isso inclui fazer aquisições que 
muitas vezes não dão certo (ver quadro “Aquisições podem reativar o 
crescimento?”). E o CEO que há anos vende uma história de crescimento 
aos investidores empenha-se em criar uma nova narrativa para vender.
Por todas essas razões, os varejistas passam muitas vezes por um 
longo e doloroso período de negação, antes de reconhecer que o 
crescimento terminou e é hora de mudar a estratégia. É provável que 
muitos varejistas de baixo desempenho em nosso estudo estejam nessa fase
 de negação agora. De fato, no relatório anual de 2015 da Walmart, o CEO
 Doug McMillon afirma: “Somos uma empresa em crescimento, — embora 
excepcionalmente grande” — uma declaração notável, dado que o ano fiscal
 que terminou em 31 de janeiro de 2016 foi o primeiro em sua história em
 que as vendas da Walmart diminuíram.
Muitos varejistas de alto desempenho também passaram por um período 
de negação obstinada. Vejamos dois exemplos: a McDonald’s e a Home 
Depot.
A McDonald’s cresceu rapidamente e com sucesso até 1998 abrindo novas
 lojas. Em 1999, o crescimento começou a desacelerar, mas a empresa 
continuou crescendo e adquirindo outras cadeias de restaurantes, embora 
essa estratégia estivesse corroendo seus ganhos e pressionando o preço 
das ações. Um novo CEO (Jim Cantalupo) inverteu esse curso em 2003. Ele 
alienou as aquisições, parou de abrir novas lojas e concentrou-se em 
aumentar as vendas das lojas existentes por meio do aprimoramento dos 
serviços e da satisfação dos clientes. Ao longo dos cinco anos 
seguintes, como resultado dessa estratégia, a margem de lucro da empresa
 duplicou e o preço de suas ações quadruplicou. (Durante o mandato do 
CEO Don Thompson, de meados de 2012 até janeiro de 2015, o desempenho da
 empresa deteriorou-se, mas, agora, ela parece estar de volta aos 
trilhos.)
A história da Home Depot é semelhante. Sob os fundadores Arthur Blank
 e Bernie Marcus, era uma máquina de abertura de lojas e rapidamente 
cresceu para ser o segundo maior varejista nos Estados Unidos. O poder 
de decisão foi delegado aos gerentes de loja, o que facilitou a expansão
 veloz (embora um tanto caótica). Mas, duas décadas depois, o conselho 
de administração estava evidentemente cansado do caos, e Bob Nardelli foi trazido como CEO para pôr ordem na casa. Enquanto 
fazia isso, Nardelli não deixou de buscar, vigorosamente, o crescimento 
das receitas, dobrando o número de lojas em seis anos e criando, 
principalmente por meio de aquisições, a Home Depot Supply, uma divisão atacadista para profissionais.
Durante o mandato de Nardelli, de 2001 a 2006, a produtividade das 
lojas ficou aquém de seu principal concorrente, a Lowe’s. As vendas de 
lojas comparáveis na Home Depot, por exemplo, aumentaram em média 1,4% 
ao ano, ante 4,6% da Lowe’s, cuja equipe de vendas era mais forte. (Para
 cortar custos, Nardelli substituiu peritos de hardware por temporários e
 reduziu o número de pessoal das lojas.) Como resultado, o lucro da 
Lowe›s nesse período cresceu duas vezes mais que o da Home Depot, e o 
preço das ações da Lowe também dobrou, enquanto o da Home Depot ficou 
estável.
A fase de negação da Home Depot terminou no início de 2007, quando 
seu conselho nomeou Frank Blake para substituir Nardelli. Desde então, 
os resultados financeiros da empresa são fenomenais. Blake inverteu a 
estratégia de Nardelli de abrir novas lojas — o que, como dissemos, não é
 fácil. Foi necessário interromper o processo já em curso de abertura de
 novas lojas e eliminar ativos — medidas difíceis para uma empresa com 
uma cultura de crescimento. 
Para impulsionar as vendas das lojas existentes
De onde vem o crescimento dos lucros quando um varejista não pode mais 
aumentar as receitas pela abertura de novas lojas? A resposta é através 
de melhorias operacionais que permitem à empresa aumentar a receita das 
lojas existentes mais rápido que as despesas.
Essa abordagem ajudou o grupo acima da média no estudo a superar os 
outros. Embora as empresas de maior desempenho tivessem aumentado o 
número de lojas em apenas 2% ao ano, elas registraram aumento de vendas 
de 3,4% nas lojas comparáveis. Isso significa que a maior parte de seu 
crescimento médio de vendas anuais de 4,7% veio de lojas existentes, de 
modo que as despesas cresceram quatro décimos de ponto percentual a 
menos que as vendas. Varejistas abaixo da média tiveram resultados 
opostos. Com taxa de aumento de lojas de 4,4% e aumento de vendas das 
comparáveis de apenas 1,9%, a maior parte de seu crescimento de vendas 
de 4,6% veio de lojas novas — uma das principais razões pelas quais suas
 despesas cresceram quatro décimos de ponto a mais que as receitas. Ao 
alavancar lojas existentes, varejistas acima da média aumentaram o lucro
 operacional em 8% ao ano, ante apenas 0,9% do grupo abaixo da média. 
 
Uma comparação entre a Foot Locker e a Finish Line, varejista rival 
em calçados atléticos, ilustra a importância de evitar que as despesas 
cresçam mais rápido que as vendas. De 2011 a 2015, a Finish Line, de 
fato, aumentou as vendas a uma taxa anual maior que a Foot Locker — 9% 
ante 8%.
Mas, enquanto a maior parte do aumento da Finish Line veio da 
abertura de novas lojas, quase todo o crescimento da Foot Locker veio de
 lojas existentes. Consequentemente, o aumento das vendas na Foot Locker
 foi 1,8% maior que as despesas, enquanto na Finish Line o aumento das 
despesas foi 1,3% maior que as vendas. As diferenças entre as taxas de 
crescimento das vendas e as das despesas podem parecer pequenas, mas são
 significativas em relação às margens operacionais, que estavam na faixa
 de 10% para ambas as empresas, e explicam plenamente o crescimento do 
lucro operacional de 23,6% da Foot Locker, enquanto o da Finish Line 
diminuiu em 4,6%. 
Ken Hicks, CEO da Foot Locker de 2009 até o fim de 2014 e presidente 
executivo até maio de 2015, disse-nos que sua estratégia para melhorar o
 desempenho operacional baseou-se em alavancar os imóveis, o inventário e
 os colaboradores da loja. Sua regra de ouro era que a velocidade de 
crescimento do inventário deveria ser metade da das vendas e, no caso 
das despesas controláveis, 70% da velocidade das vendas. 
Há muitas formas de o varejista impulsionar as vendas de lojas existentes. Vamos abordar detalhadamente os mais importantes.
Imóveis. Mesmo se um varejista não aumenta o número de lojas, a equipe 
de imóveis não deve ficar ociosa. É preciso fechar lojas improdutivas, 
expandir e reformar lojas nas melhores localizações e examinar 
cuidadosamente locais para as poucas que serão abertas. Sob Frank Blake e
 seu sucessor, Craig Menear, a Home Depot concentrou-se em renovar lojas
 existentes e colocar a manutenção em dia. A Foot Locker se concentrou 
em racionalizar a localização de suas lojas, fechando algumas e 
expandindo onde necessário. 
Analytics. O que determina se os clientes vão comprar algo 
ou deixar a loja de mãos vazias é o grau em que eles conseguem encontrar
 os produtos que procuram a um preço razoável e obter a ajuda necessária
 dos colaboradores de vendas. Muitas ferramentas de analytics 
disponíveis hoje ajudam os varejistas a decidir a variedade e a 
quantidade de produtos que devem estocar, como precificar esses itens, e
 quantos colaboradores de venda colocar em cada loja e em que horário. 
O uso de analytics da Kroger é notável. Em 2010, ela começou a 
implementar tecnologia de infravermelho para rastrear a entrada dos 
clientes na loja e, em seguida, usar analytics preditiva para estimar 
quando eles devem chegar à fila do caixa. Isso permite que a Kroger 
determine quantos caixas precisam estar operando a qualquer momento a 
fim de atender seus exigentes padrões de tempo de espera. Um grande 
monitor dinâmico informa, em tempo real, clientes e colaboradores sobre o
 tempo de espera. Desde que essa tecnologia foi instalada, o tempo de 
espera médio caiu de quatro minutos para 26 segundos, e a satisfação do 
cliente com o checkout melhorou significativamente. Iniciativas como 
essa ajudaram a Kroger a atingir mais de 50 trimestres consecutivos de 
aumentos positivos nas vendas de lojas comparáveis. 
Desenvolvimento de novos produtos. Varejistas que procuram 
melhorar as vendas em lojas existentes muitas vezes desenvolvem novos 
produtos para impulsionar as receitas. Para fazê-lo de forma eficaz, o 
procedimento para identificar e testar ofertas potenciais deve ser 
altamente metódico. 
Considere o processo da Home Depot para adicionar produtos de marca 
própria. Primeiro, o varejista identifica itens de marca do mercado que 
vendem pouco e examina dados de reclamações dos clientes para ver como 
os produtos podem ser melhorados. Em seguida, desenvolve produtos de 
marca própria — por exemplo, ventiladores de teto Hampton Bay, 
ferramentas Husky e vaso sanitário Glacier Bay — e os aperfeiçoa 
continuamente para melhorar a qualidade e reduzir custos. Em vez de usar
 a economia de custo para aumentar a margem bruta de lucro dos produtos,
 muitas vezes repassa a economia aos clientes diminuindo o preço. Isso 
gera mais vendas nas lojas existentes e tira uma fatia de vendas das 
concorrentes. Se um novo produto com marca própria obtém, 
consistentemente, 3 a 5 ou menos na avaliação de clientes, ou não 
consegue tirar uma quota de vendas do item de marca, a Home Depot o 
elimina. 
Pessoal. A eficácia de sua equipe de vendas depende de quem 
você contrata, como a treina, que tecnologia implementa para torná-la 
mais eficaz e como a aloca nos departamentos de cada loja, de acordo com
 o horário do dia. 
Tudo começa com a contratação das pessoas certas. Ken Hicks disse-nos
 que todos os candidatos da Foot Locker fazem um teste online que mede 
sua propensão para vendas e se estão de acordo com a cultura da Foot 
Locker. A empresa refinou o teste ao longo do tempo, aplicando-o aos 
colaboradores atuais e correlacionando os resultados com sua 
produtividade real. Dados da empresa mostram que as pessoas contratadas 
depois da implantação do programa, em 2013, venderam mais e ficaram na 
empresa mais tempo. A Foot Locker também otimiza a produtividade, 
atribuindo os turnos mais importantes aos colaboradores que vendem mais.
 A L Brands, que adota abordagem semelhante, chama essa prática de 
“colocar os ases no lugar certo”. 
O treinamento é também peça fundamental do quebra-cabeça. 
Colaboradores de vendas bem treinados e com conhecimento profundo do 
produto podem aumentar significativamente a porcentagem de clientes que 
entram na loja e realmente compram algo — o que os varejistas chamam de 
“taxa de fechamento”. A Dillard, que oferece treinamento online de 
produtos a colaboradores de vendas, descobriu que cada hora que um 
colaborador gasta com treinamento aumenta sua taxa de vendas em notáveis
 5%. 
Outra maneira comum de melhorar o desempenho dos vendedores é 
eliminar trabalho sem valor agregado às suas responsabilidades para que 
possam dedicar mais tempo atendendo clientes. Nesse ponto, um caso 
exemplar é o da Foot Locker. Na maioria das lojas, os colaboradores de 
venda se deslocam muitas vezes até a sala dos fundos para verificar a 
disponibilidade de calçados e trazê-los aos clientes para que os 
experimentem. Essas viagens consomem tempo precioso, e muitos clientes 
impacientes saem sem fazer a compra. Para reduzir o tempo que os 
colaboradores ficam longe do cliente, a Foot Locker introduziu leitores 
digitais que permitem verificar, online, o que está disponível no 
estoque e em outras lojas, sem sair de perto do cliente. Acredita-se que
 os leitores tenham adicionado 2% às vendas. 
A Macy’s também usa a tecnologia para facilitar o processo de vendas.
 Seus “provadores inteligente” são equipados com iPads que permitem aos 
clientes solicitar itens adicionais ou tamanhos diferentes, que os 
vendedores, em seguida, trazem até os provadores. 
Estratégias de distribuição. A maioria dos varejistas de 
tijolo e argamassa seria mais feliz se a internet, que possibilitou as 
compras online, nunca tivesse sido inventada. Mas varejistas 
inteligentes entendem que uma estratégia sólida de omnichannel pode 
aumentar as vendas globais, oferecendo aos clientes formas adicionais de
 coletar informações, fazer compras e receber produtos. 
Por exemplo, permitir aos clientes comprar produtos online e 
buscá-los em uma loja não só melhora as vendas online, mas também 
aumenta as vendas da loja. Isso porque os clientes tendem a fazer 
compras adicionais quando vão até a loja para pegar suas compras. Os 
varejistas também se beneficiam ao atender encomendas online com o 
estoque da loja. Isso pode ajudá-los a evitar descontos para itens em 
excesso e minimizar a necessidade de expandir a capacidade de 
distribuição central durante picos sazonais de compra. 
Varejistas omnichannel também podem aumentar suas vendas otimizando 
suas redes de distribuição para acelerar o atendimento de pedidos. Um 
estudo de um varejista mostrou que a abertura de um novo centro de 
distribuição, cortando o tempo de entrega média de vendas online para 
alguns clientes de sete para três dias, aumentou em 4% as vendas aos 
clientes nesse segmento. A margem bruta sobre as vendas adicionais foi 
mais do que suficiente para cobrir o custo de adicionar um novo centro 
de distribuição. 
Um varejista que entende isso muito bem é a Home Depot. Recentemente,
 ela substituiu dois centros de atendimento direto mais antigos por três
 novos. A localização desses centros, a estratégia de estocagem e os 
processos operacionais usados foram otimizados para possibilitar entrega
 mais rápida. A Home Depot também melhorou a precisão das informações de
 tempo de entrega fornecidas aos clientes. Antes, ela dizia a todos os 
clientes em todos os códigos postais que a entrega se daria no intervalo
 de sete a nove dias. Agora, ela fornece prazos personalizados a partir 
de dois dias. “Nossos dados não deixam dúvidas de que, reduzindo o tempo
 de entrega, as vendas aumentam”, disse-nos Holifield. 
Políticas voltadas para o cliente. Para melhorar as vendas, 
coisas como sua política de devolução, cartões de crédito aceitos e 
horário das lojas precisam ser continuamente monitorados e revisados. A 
McDonald’s, por exemplo, fez várias melhorias durante o período de 2006 a
 2011, incluindo aceitar cartões de crédito em vez de apenas dinheiro, 
expandir o horário de funcionamento de algumas lojas para 24 horas e 
dobrar o número de faixas do drive-through nas lojas mais cheias para 
aliviar congestionamentos. Bob Marshall, ex-vice-presidente de operações
 de restaurantes da McDonald’s nos Estados Unidos, estima que essas 
mudanças resultaram em aumento de vendas de dois dígitos. 
Aloque o capital sabiamente
A boa notícia sobre varejistas maduros é que eles geram muito dinheiro, 
que pode ser usado para financiar os projetos de melhoria de operações 
descritos acima. O desafio é garantir que o capital disponível seja 
alocado nas iniciativas mais promissoras. 
As empresas devem formular e seguir um processo disciplinado de 
alocação de capital que começa com a geração de ideias. Os varejistas 
devem começar vasculhando todas as áreas do negócio por ideias de 
melhoria de processos, bem como inspirar-se em outros varejistas. 
Algumas empresas, como a Macy’s e a McDonald’s, têm grupos de inovação 
para encontrar e avaliar ideias de melhorias. A McDonald’s também possui
 um centro de inovação, onde replica equipamentos e processos de lojas 
para testar o efeito de novos produtos sobre o tempo de serviço em 
determinado tipo de restaurante. De acordo com Bob Marshall, o centro de
 inovação foi fundamental para a introdução bem-sucedida, nos Estados 
Unidos, da linha McCafé de bebidas, entre 2007 e 2008. Ele estima que 
ela gerou no país aumento de vendas de um dígito em média.
De posse das ideias, a etapa seguinte é avaliar o ROIC de cada 
iniciativa e financiar somente aquelas que excedem a taxa de obstáculo 
desejada. 
“As coisas que você não faz são frequentemente mais importantes do 
que as que você faz”, diz Hicks. Projetos-piloto devem ser realizados 
para cada iniciativa, e os resultados devem determinar se a iniciativa é
 implantada em todas as lojas. No começo, a Foot Locker implantou sua 
tecnologia de rastreamento apenas em lojas-piloto. Ao mesmo tempo, 
trabalhou com a Motorola para reduzir o custo do leitor, de US$ 1.200 
para US$ 300. A tecnologia só foi implantada em toda a empresa depois de
 ter sido completamente aprimorada. 
A McDonald’s, ao contrário, parece ter esquecido a necessidade de um 
processo disciplinado durante o mandato de Don Thompson. “A gestão se 
apaixonou por suas próprias ideias e não teve a disciplina para eliminar
 produtos como o Mighty Wings, cujos resultados em testes eram 
questionáveis”, disse Marshall. 
Conforme os projetos de melhoria interna com ROIC aceitável começam a
 superar opções atraentes para novas lojas, a alocação de capital evolui
 lentamente de estratégia de escala para estratégia de alavancagem. 
Porém, para fazer essa mudança com sucesso, os varejistas devem 
comunicar claramente sua estratégia a Wall Street. Os investidores 
gostam de empresas que superam as expectativas e odeiam as que ficam 
aquém. 
Varejistas maduros devem estabelecer metas de vendas anuais 
conservadoras, e explicar sua lógica para se concentrar no ROIC. Durante
 o mandato de Blake, a Home Depot começou a anunciar objetivos cada vez 
mais altos para o ROIC, começando com 15%, depois 24%, e agora 35%. 
Ela vem atingindo esses objetivos antes do prazo anunciado. O que 
acontece quando um varejista tem mais capital do que oportunidades 
atraentes de investimento interno ou externo? Depois de guardar dinheiro
 para uma emergência (o varejo é cíclico, e é fácil queimar gordura 
durante as crises), o varejista deve distribuir o restante aos 
acionistas através de dividendos ou recompras de ações. Isso, de modo 
geral, foi feito pelo grupo com desempenho acima da média — o que, sem 
dúvida, ajudou no preço das ações. A Home Depot, por exemplo, anunciou 
que todo ano devolveria aos acionistas pelo menos metade do dinheiro 
disponível. 
A obsessão destrutiva com o alto crescimento permeia praticamente 
todas as economias capitalistas. Embora este artigo foque no setor do 
varejo, esperamos que estimule gerentes e investidores de todos os 
setores a fazer uma pausa e reconsiderar quando o crescimento elevado é 
bom — e quando não é. 
Nossa análise oferece apenas uma fotografia no tempo. Certamente isso
 não significa que aqueles com resultados mais fracos não possam 
engrossar a fila dos mais fortes, ou vice-versa (até varejistas mais 
bem-sucedidos passam por períodos de desempenho tímido.) Dito isso, 
fazer a mudança de uma estratégia de expansão para uma de alavancagem é 
um enorme desafio para varejistas. Muitas vezes, isso requer um novo CEO
 — alguém que se deleita com o trabalho minucioso de aprimorar as 
operações. Infelizmente, muitos líderes de varejistas maduros 
simplesmente não conseguem aceitar a realidade quando os dias agitados 
da empresa ficaram para trás e é hora de superar o vício do crescimento.
MARSHALL FISHER é professor UPS da Wharton School da University of 
Pennsylvania, coautor (com Ananth Raman) de The new science of retailing
 e cofundador e presidente da 4R Systems, empresa de análise de varejo. 
VISHAL GAUR é professor da Johnson School of Business da Cornell 
University. HERB KLEINBERGER é professor adjunto da Stern School of 
Business da New York University.