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Ao longo de sua trajetória, qualquer empreendedor está sujeito a cometer erros. Os erros são fontes de aprendizado e podem ajudar o empreendedor em seu processo de amadurecimento. Melhor ainda quando se pode aprender como os erros dos outros. Apresento aqui uma série de erros que cometi ou testemunhei nos primeiros 15 anos de minha vida profissional e empresarial.
Gigantismo não é garantia de sobrevivência – sou engenheiro e meu primeiro emprego foi na Engesa Engenheiros Especializados SA. Na década de 80 a Engesa era como se fosse a Embraer de hoje, grande produtora e exportadora de produtos industrializados, blindados sobre rodas. Alguns devem se lembrar dos Urutus e Cascavéis, veículos militares exportados para vários países. A empresa se perdeu no próprio gigantismo, descuidando do foco e da eficiência operacional. Quando perdeu alguns clientes e deixou de contar com o apoio do governo militar, rapidamente entrou em uma espiral descendente e em pouco tempo deixou de existir. Quanto mais alto o coqueiro...
Conheça o segmento onde vai empreender – ao sair da Engesa, montei um negócio de exportação em conjunto com a família. Alugamos meio andar na rua Oscar Freire em São Paulo, endereço de primeira classe, mobiliamos com móveis de luxo, contratamos secretárias bilíngues, colocamos um telex (alguém sabe o que é isto?) e começamos a fazer contatos. Um ano e meio lá e nenhum negócio. A ideia até que fazia sentido: colocar um depósito nos Estados Unidos e cuidar de importar de lá e distribuir. Ocorre que não conhecíamos nada da operação e nos perdemos na falta de planejamento e de conhecimento do mercado. Aprendizado caro.
Analise as tendências – De volta ao mercado de trabalho, assumi o cargo de gerente de produção da Brascom – Computadores Brasileiros. Era uma proposta interessante: em uma época em haviam os CPD´s (alguém sabe o que é isto??) e os computadores eram caros, grandes e complicados, acessíveis apenas para grandes empresas, a Brascom oferecia um micro multiusuário, uma CPU que podia trabalhar com até seis terminais (âmbar ou fósforo verde), a um preço relativamente acessível. Ocorre que lá por 1986 chegou ao Brasil o tal do MSDOS, um dos primeiros produtos da Microsoft.
Na sequência vieram os softwares que permitiam a construção de redes de microcomputadores. Do dia para a noite a proposta da Brascom deixou de fazer qualquer sentido e as redes passaram a dominar o segmento das pequenas e médias empresas. O erro aqui foi não analisar quais eram as evoluções tecnológicas em perspectiva. Um olhar mais atento ao que vinha acontecendo nos Estados Unidos poderia ter sido suficiente para vislumbrar o que viria e quem sabe adequar-se a tempo. Não foi o que aconteceu e o mercado da Brascom virou zero em pouquíssimo tempo. Fim de jogo.
Pense se você se adaptará à rotina que seu negócio irá impor – Encerrado o período na Brascom, decidi voltar para o interior de Minas, onde nasci e junto com família montamos uma espécie de loja de conveniência em um terreno que tínhamos no centro da cidade. Este negócio incluía uma lanchonete moderna, uma padaria com minimercado e um magazine para venda de artigos esportivos e brinquedos. Ficou bonito e deu muito movimento no início. Ocorre que nem eu nem as outras pessoas da família estávamos preparados para o tipo de rotina que o negócio exigia. Sete dias por semana, 18 horas por dia, grande atenção aos pequenos detalhes, processos aos quais não estávamos acostumados.
Não era o nosso perfil e cedo o negócio decaiu e foi encerrado com perdas pesadas para nós na época. Ao selecionar o segmento de atuação, o empreendedor deve pensar na oportunidade, claro, mas também no tipo de vida que terá. Terá que viajar? Não poderá viajar? Com ou sem contato com o público? Estas e outras variáveis deverão ser compatíveis com o perfil de quem empreende. Mais uma lição dolorosa.
A não ser que você tenha uma vantagem importante de custos, evite a commodity - Vendemos o imóvel onde ficava a loja e com os recursos adquirimos máquinas para montar uma serralheria industrial, especializada na fabricação de portas e janelas de aço. Com relativa rapidez, colocamos o negócio para funcionar. A demanda por este tipo de produto é grande e atingimos um nível de faturamento razoável. Acontece que fabricávamos produtos com baixo valor, que geram receitas porém com margens muito baixas, commodities. O negócio não prosperou e a família decidiu encerrar as atividades empreendedoras conjuntas. Cada um foi para um lado.
Ninguém tem o toque de Midas – Com a implantação da JPX do Brasil em minha cidade, surgiu a oportunidade de retomar a carreira de engenheiro. Era uma empresa que fabricava veículos fora de estrada, com base em um projeto de um jipe militar francês. O projeto foi feito por iniciativa do empresário Eike Batista, na época conhecido pelas minas de ouro e pelo casamento com a modelo Luma de Oliveira. O mercado automobilístico, apesar do glamour, é extremamente competitivo e talhado para uma gestão totalmente profissional. Três anos e cinquenta milhões de dólares depois a JPX fechou. Nem tudo que reluz é ouro.
É preciso gerenciar de forma profissional – Com uma pequena parte dos ativos da fabrica de esquadrias e agora sem sócios da família, iniciei a Prática Produtos, mesmo antes do emprego na JPX. Aí houve um grande acerto. Com base na formação de engenheiro e na experiência com a padaria/lanchonete, identifiquei a oportunidade do desenvolvimento de fornos com mais eficiência energética. Produto diferenciado, mercado em ascensão. Mesmo nesta linha de produtos com margens melhores e mercado em crescimento, ficamos praticamente cinco anos no limite de sobrevivência, do tipo “vender o almoço para comprar a janta”. Atribuo isto à falta de uma gestão estruturada.
No final da década de 90, iniciamos um trabalho de estruturação da gestão, com apoio de instituições como o Sebrae e a Fundação Dom Cabral. Hoje contamos com os programas e a rede de mentores da Endeavor. Um dos meus irmãos voltou a ser meu sócio, trazendo a bagagem de suas próprias experiências e juntos construímos uma empresa próspera e com uma visão de futuro ambiciosa. Aquelas experiências e erros, hoje vistas em perspectiva, foram grandes fontes de aprendizado. Na época causaram stress e várias noites de insônia.
As dificuldades, quando delas se tiram aprendizados são fontes de amadurecimento pessoal e profissional. Uma das características que marcam o perfil empreendedor é a resiliência, a capacidade de dar a volta por cima das dificuldades. Em sociedades empreendedoras maduras, experiências anteriores sem sucesso podem se constituir em parte dos requisitos para criação de novas oportunidades, mesmo no ponto de vista de investidores.
*André Rezende é fundador e presidente da Prática Fornos e Empreendedor Endeavor desde 2008.