Por Marcos Hashimoto*
Existe um movimento que talvez poucas pessoas estejam percebendo, mas já reflete uma tendência: o crescimento dos chamados negócios sociais. São negócios como quaisquer outros, com fins lucrativos, produtos e serviços, um mercado a ser atendido e geração de receita – mas que têm como fim um considerável impacto socioambiental.
O pressuposto desse tipo de negócio é que o lucro, por si só, não deve ser o principal objetivo da empresa, mas o impacto na sociedade e no ambiente. Não estou falando aqui do velho chavão, defendido por qualquer empresário, de que seu negócio gera empregos. Embora gerar emprego seja um resultado social positivo, não é para isso que a empresa existe. Negócio social é aquele em que o propósito da empresa é o bem social.
Pouco tempo atrás esse conceito não só era desconhecido como, na cabeça de muitos, contraditório em si mesmo. Ou se tratava de uma organização não governamental sem fins lucrativos, as conhecidas atividades do terceiro setor, ou eram empresas do segundo setor, com fins puramente lucrativos. Então como um negócio pode ter lucro e fazer o bem ao mesmo tempo? Empresas como Terracycle, Solidarium, Catarse, Vox Capital, Tekoha, Feira Preta e Treebos, entre várias outras, já demonstraram que é possível, sim.
Essas empresas, que podem ser classificadas como pertencentes ao setor 2,5 (para indicar que não é do terceiro nem do segundo), estão começando a crescer no Brasil. O movimento vem tanto de empresas do segundo setor que começam a se preocupar mais com as causas sociais, quanto de empresas do terceiro setor que se deram conta de que não são sustentáveis se dependerem apenas de doações e filantropia.
Grandes organizações com fins lucrativos – entre elas uma porção crescente de empresas com ações negociadas publicamente – têm orgulho de apresentar seus projetos sociais, normalmente coordenados internamente por funcionários voluntários, ou, quando bem estruturados, por meio de divisões de CSR (Corporate Social Responsibility, isto é, responsabilidade social corporativa), na forma de instituições e fundações. Note-se que o movimento dos negócios sociais é diferente da atitude de empresas que fazem doações ou exploram incentivos fiscais para patrocinar eventos e iniciativas sociais. A simples doação de dinheiro, embora possa representar um primeiro passo, ainda não qualifica uma empresa para o setor 2,5. O que a qualifica é a responsabilidade direta na concepção e na implantação de projetos dessa natureza.
Por outro lado, movimentos sociais, ONGs, Oscips e outras entidades que nasceram pela causa social já estão buscando meios alternativos e sustentáveis de sobrevivência e crescimento por meio de modelos tradicionais de negócio, que envolvem a produção e/ou o comércio de bens e serviços. Dessa forma, comunidades de costureiras, de catadores de sucata, centros de incentivo ao esporte, entidades de educação, organizações de defesa de minorias, entre várias outras, já estão profissionalizando sua gestão e gerando receita. Embora até exista lucro, ele é chamado de superávit, pela natureza jurídica dessas organizações, e deve ser devolvido na forma de reinvestimento e incorporação ao capital social da empresa.
Quando eu digo que no futuro próximo todos os negócios serão sociais, me refiro a esse movimento em que as empresas, de qualquer tipo e de qualquer natureza, perceberão que, no final das contas, seu principal valor é social. Um banco, por exemplo, está se dando conta de que seu propósito principal não é gerar lucro para o acionista, mas facilitar a concretização do sonho das pessoas. Uma montadora de veículos descobre que sua missão é agilizar a mobilidade das pessoas, ou um hotel se dá conta de que proporciona momentos de lazer e descanso. Quando as empresas percebem o que de fato elas fazem, veem que todos os propósitos são, no fundo, sociais. O caminho das empresas é, inexoravelmente, em direção ao setor 2,5.
No Brasil, em que o primeiro setor (governo) é fraco e tem sérias limitações para cumprir sua função social, é esse movimento que cumprirá tal papel, formando uma sociedade mais justa, com menos diferenças, na qual a prosperidade será uma consequência (e não a causa) que beneficiará a todos, inclusive as empresas do setor 2,5.
* Marcos Hashimoto é Coordenador do Centro de Empreendedorismo da Faap, consultor e palestrante (www.marcoshashimoto.com)
Fonte: PEGN
Fonte: PEGN
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