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segunda-feira, 11 de junho de 2012

"0,7% das lojas seguem normas de segurança"



Centro da Capital

0,7% das lojas seguem normas de segurança

09.06.2012


Corpo de Bombeiros faz vistoria e encontra irregularidades; neste ano, foram cinco incêndios no Centro

Das 2.081 lojas fiscalizadas pelo Corpo de Bombeiros do Ceará no Centro da Capital, apenas 15 estavam dentro das normas de segurança contra incêndio, o que representa apenas 0,7% dos imóveis compreendidos entre a Rua João Moreira (norte), Avenida Duque de Caxias (sul), Rua Governador Sampaio (leste) e Avenida Imperador (oeste).

 










Muitos imóveis do bairro apresentam fiação irregular, sobrecarga de aparelhos elétricos em uma única tomada, armazenamento errado de produtos e ausência de extintores, o que favorece incidentes Foto: Rodrigo Carvalho

Os números foram obtidos por meio do Programa Patrulha da Prevenção, uma iniciativa do Corpo de Bombeiros, que tem como parceiras a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Fortaleza, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) e a Secretaria Executiva Regional do Centro (Sercefor). O trabalho de vistoria foi realizado em março e abril deste ano.

Fiação irregular, sobrecarga de aparelhos elétricos em uma única tomada, armazenamento errado de produtos e ausência de extintores, hidrantes e para-raios caracterizam os estabelecimentos comerciais do principal quadrilátero do Centro. O cenário, favorável a incêndios, coloca em risco a vida de milhares de pessoas que frequentam o lugar diariamente.

Conforme o Corpo de Bombeiros, em 2012, já foram registrados cinco incêndios de grande complexidade somente no Centro de Fortaleza, número igual ao total de 2011, em que também foram contabilizadas cinco ocorrências de média a grande proporções.

"A situação é preocupante, e mostra que o Centro é, verdadeiramente, uma bomba-relógio quando falamos em risco de incêndios", afirma o capitão Giuliano Rocha, comandante do Programa Patrulha da Prevenção.

Orientações

De acordo com ele, grande parte dos comerciantes em situação irregular estão procurando o Corpo de Bombeiros a fim de receber orientações para reparar os erros. A expectativa é de que, no começo de julho, seja iniciado um curso gratuito de brigada de incêndio no Centro, cuja turma será formada por funcionários das lojas do quadrilátero fiscalizado pelo órgão.

"No fim do treinamento, que vai durar um mês, vamos fazer um balanço de quem se adaptou às normas de segurança para, a partir daí, pensarmos nas medidas cabíveis para aqueles que continuarem colocando a vida das pessoas em risco", informa o capitão, dizendo que existem 220 hidrantes públicos na Capital e região metropolitana. Destes, 25 estão no Centro, número considerado suficiente pelo Corpo de Bombeiros.

Na Rua Governador Sampaio, caminhões estacionam a todo momento para descarregar pilhas de materiais diversos em estabelecimentos antigos, onde é possível perceber a ausência de estrutura física.

"Acho que a fiscalização do Corpo de Bombeiros é válida. Estou disposto a entrar dentro das normas de segurança e prevenir o pior", considera Manoel de Sousa, 58, gerente de uma loja de materiais elétricos situada naquela via.

OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Situação preocupa e põe vidas em risco

Teresa Neumann
Pres. do Sindicato dos Engenheiros do Ceará

Neste ano, apresentei um projeto de lei à Câmara Municipal de Fortaleza no sentido de o poder público conscientizar e prevenir os moradores de incêndios. O projeto já foi promulgado e aguarda a publicação no Diário Oficial do Município.

A gente precisa entender que esses sinistros não vêm de agora e, na maioria das vezes, vão além dos imóveis atingidos, atingindo outros estabelecimentos. Por sorte, estamos tendo apenas prejuízos econômicos, mas o que está em risco são as vidas das pessoas.

O fato de a principal área do Centro de Fortaleza ter apenas 0,7% dos imóveis dentro das normas de segurança contra incêndio é um absurdo. O adensamento é muito grande. Mas, esse problema também pode ser verificado em imóveis de atividade residencial, inclusive em prédios públicos, que não passam por manutenção. São muitos os perigos, como fachadas de lojas produzidas com materiais altamente inflamáveis, medidores expostos nas ruas, nos postes e ambulantes que utilizam energia de forma ilegal, fazendo "gambiarras".

Isso sem falar no número de hidrantes nas ruas, que são insuficientes. No Centro, só existem 25. Grande parte das lojas, antigas e sem estrutura, não têm seguro contra incêndio, o que deixa a situação ainda pior.

Bombeiros já contam 793 incêndios neste ano

Em 2011, o Corpo de Bombeiros do Ceará registrou 3.873 incêndios em Fortaleza e região metropolitana. Destes, 1.068 estão relacionados à incêndios residencial unifamiliar, multifamiliar e acidentes em edificações comercial e industrial. Em 2012, a órgão já contabilizou 793 casos, sendo 218 ligados aos tipos de incêndio citados anteriormente.

O último incidente de grandes proporções aconteceu na quinta-feira passada, numa loja e depósito de material de confecção localizada na Rua Elvira Pinho, nº 747, no Montese.

Na manhã de ontem, os bombeiros foram novamente ao lugar para apagar os focos de fogo que ainda resistiam debaixo das placas de concreto. Por volta de meio-dia, agentes da Defesa Civil de Fortaleza também estiveram lá para vistoriar e orientar as famílias dos sete imóveis atingidos pelo incêndio.

Perigo

"Apenas uma casa estava em risco iminente de desabar, mas o morador já saiu do local", diz o agente Igor Torres Mourão. Ele também informa que uma das paredes da loja, que estava para cair, foi demolida.

Desolado, o esposo da proprietária do estabelecimento, José Cláudio Gonçalves, 42, assegura que a caixa de energia era desligada toda noite, por isso não acredita que o incêndio tenha sido causado por curto circuito. Parte dos 15 funcionários foram ao local para colher o material que poderia ser aproveitado, mas só sobraram as ferragens que estavam fora do galpão.

RAONE SARAIVA
REPÓRTER



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