Empreender é uma questão de ser
O sucesso de um negócio depende
da busca constante pela motivação
Por Marcos Hashimoto*
Imagine a seguinte situação:
Mário é um jovem talentoso, bem sucedido em sua carreira e decide largar o
emprego para começar o seu próprio negócio. Cheio de ambições, supera
dificuldades, derruba barreiras, dá suas cabeçadas para aprender, até que,
enfim seu negócio dá certo, passa pelo crítico período de instabilidade inicial
e atinge a maturidade. Uma história que já vimos dezenas de vezes entre
empreendedores bem sucedidos.
Mas, a despeito do sucesso, Mário
começa a se sentir entediado. Já não vai trabalhar com o mesmo entusiasmo, já
não encara o negócio com o mesmo senso de desafio que tinha antes e logo se dá
conta que a energia que o mantinha atento ao negócio e alerta a tudo era
justamente o risco de dar errado, as altas chances de fracasso. Agora, seguindo
curso de cruzeiro, com poucas mudanças no ambiente, com uma rotina bem
estabelecida e bem estruturada, ele descobriu que lhe falta a adrenalina que o
mobilizava durante a fase de implantação da empresa. O que lhe resta de desafio
agora é aumentar as vendas e reduzir os custos, o que não é suficiente para
ele, lhe dá sono e tédio.
Bem, você certamente vai dizer
que empreendedores de verdade vão sempre procurar sarna para se coçar e logo,
Mário deverá se impor novos desafios, lançar novos produtos, atuar em novos
mercados, testar novos modelos de negócio, ou crescer por meio de parcerias
estratégicas. Porém, para levarmos esta história ao ponto que quero discutir,
suponhamos que este tipo de negócio não tem mais espaço para fazer nada
diferente e que seu destino é mesmo de continuar deste tamanho e não mudar
nada.
O que este empreendedor faz?
Vende o negócio e começa outro - desta vez com mais experiência, mais dinheiro
e mais conhecimento. Muitos empreendedores fazem isso e não há nada de errado.
É possível, inclusive, que o empreendedor contrate um administrador para seu
primeiro negócio e, aos poucos, comece a se dedicar mais às suas novas
empreitadas. Se sua energia é alimentada pela adrenalina, começar um negócio
novo, do zero proporciona essa fonte de energia. Assim, podemos facilmente
assumir que o empreendedor é dissociado do negócio.
Um negócio bem-sucedido não
precisa ter um empreendedor por trás, assim como o empreendedor não precisa
estar à frente de um negócio bem-sucedido. Pelo contrário: a despeito do
sucesso do primeiro negócio, Mário pode fracassar com o segundo. Mesmo assim,
ele tenta novamente, talvez várias vezes, até dar certo.
Mas, vamos ao ponto que quero
tratar. Imagine que, por alguma infelicidade do destino, Mário tenha um pai
doente que requer cuidados especiais e ele se vê obrigado a deixar sua empresa
de lado para cuidar dele. De repente, ele se vê em casa, longe dos desafios,
distante de sua fonte de adrenalina, dividindo seu tempo entre a ociosidade e
os cuidados ao seu pai. Problemas familiares são motivos comuns para o
fechamento de negócios. São circunstâncias que não estão no controle do
empreendedor. Mesmo assim, Mário é empreendedor e não vai ficar quieto.
Diante de tais restrições, ele
começa a procurar algo para fazer no seu tempo livre que não o force a sair de
perto do pai. Encontra na internet um mundo de oportunidades e cria uma
comunidade de discussão que reúne pessoas que possuem o mesmo mal do seu pai.
Passa a pesquisar o tema, explorar contato com especialistas, cria um blog onde
publica seu aprendizado... Logo se torna popular na rede, agrega mais pessoas à
comunidade e ganha visibilidade na mídia. Descobre assim, que o mal que aflige
seu pai é incurável, mas encontra pessoas que lhe mostram como estabilizar os
sintomas e conviver com a doença.
O que estou tentando demonstrar
por meio deste exemplo é que empreender não é uma questão de estar e sim de
ser. As pessoas SÃO empreendedoras, independentemente de um negócio dar certo
ou não, independente de estar à frente de um negócio ou não. Elas simplesmente
são. E por serem empreendedores, vão sempre tentar empreender em qualquer
situação que a vida lhe impuser. Pessoas que estão à frente de negócios que
fracassam não são pessoas que eram empreendedores e depois do fracasso deixaram
de ser. Pessoas que vendem o negócio ou saem da operação do dia-a-dia não
deixam de ser empreendedores, pois vão sempre manifestar seu perfil em outras
circunstâncias. Não existem pessoas que ESTÃO empreendedoras por um período de
tempo e deixam de sê-las quando a iniciativa é descontinuada.
Certamente você encontrará quem
defenda que, se o Mário desiste do seu negócio porque não agüenta mais a
rotina, então ele não é empreendedor. Para estas pessoas, não existe
dissociação entre o empreendedor e seu empreendimento. Neste caso, uma empresa
só pode ser empreendedora se o empreendedor ainda estiver no comando.
Então, se o empreendedor sai do
negócio, seja se afastando da direção ou vendendo o negócio, a empresa deixa de
ser empreendedora? Se um executivo com perfil intraempreendedor assumir a
direção do negócio, a empresa não pode ser empreendedora? E se o empreendedor
deixar a direção da empresa nas mãos de seu sócio, a empresa continua sendo
empreendedora, certo? E se o sócio não tem perfil empreendedor? Isso é
possível? Claro! Ser dono de um negócio não significa que ele é empreendedor. A
empresa deixa de ser empreendedora se o dono não tem perfil empreendedor?
O interessante no conceito de empreendedorismo
é sua ampla abrangência que permite acomodar todas as interpretações, gerando
profícuos e ricos debates sobre o que é empreender.
Publicado originalmente em:
* Marcos Hashimoto é professor de empreendedorismo da ESPM,
consultor e palestrante.
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