Sociedade
Avanço da nova classe média prossegue, diz especialista
Apesar da desaceleração da economia, pesquisador da FGV Marcelo Neri reafirma projeção de que a classe C terá mais 12 milhões de pessoas até 2014
Keila Cândido
Marcelo Neri: avanço social no Brasil é mais sustentável (Tomas Rangel/VEJA Rio)
A expansão da classe média brasileira segue robusta, conforme dados
apurados até junho, afirma o economista e coordenador do Centro
Políticas Sociais (CPS) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marcelo Neri.
Em debate na 22ª Bienal do Livro, em São Paulo, ele reafirmou a projeção
de que mais 12 milhões de pessoas ascenderão para esse segmento até
2014. Nas classes A e B, o número de entrantes chegará a 7,7 milhões.
Neri não arrisca dizer, contudo, como será o comportamento dessas
classes sociais de 2015 em diante. Entre 2003 e 2011, a nova classe
média – que tem renda familiar de 1.700 reais – incorporou 40 milhões de
pessoas.
Para Neri, foi a nova classe média que estabilizou a economia
brasileira e fez crescer o Produto Interno Brunto (PIB) nos últimos anos
em que tônica foi a crise internacional. “A classe média é o
amortecedor interno da economia. Se ela quebrar, não sabemos para onde
vai o país”, disse. O economista, autor do livro “A Nova Classe Média - O
Lado Brilhante da Base da Pirâmide”, participou nesta quinta-feira de
debate sobre o assunto.
2014 – Após a renda do brasileiro ter aumentado nos últimos anos, na esteira do crescimento econômico, o pesquisador não se arrisca a dizer como será sua evolução num intervalo de tempo mais extenso, a partir de 2014. “Estamos em um momento de pleno emprego, mas é arriscado dizer qual será a renda real das famílias da nova classe média”, disse.
Para Neri, por ora, não há sinal de que haverá reversão da ascensão social dos mais pobres. A classe média, aliás, ganhou força, segundo dados apurados até junho. De acordo com o economista, o mercado de trabalho faz mais diferença para o consumo destas pessoas do que o acesso crédito. “O que importa para elas é trabalhar e ter dinheiro no bolso para consumir”, explicou.
Novo consumidor – A nova classe média, hoje com maior poder de compra, tem tido acesso a bens e serviços que, anteriormente, eram restritos às classes A e B, tais como planos de saúde, escolas particulares e previdência privada. Neri lembrou que a má qualidade na oferta de serviços tem gerado nesse novo consumidor uma sensação de frustração. Na avaliação do especialista, é para essa insatisfação que as empresas têm de olhar. “Esta é a nova agenda no Brasil. As pessoas estão consumindo fortemente, e são exigentes”, afirmou.
Segundo Neri, os pacotes do governo para melhorar a infraestrutura do país – tal o programa de investimento de ferrovias e rodovias anunciado nesta quarta-feira
– são de “extrema importância” porque esses novos consumidores aumentam
os desafios do país. Em outras palavras, as pessoas estão consumindo o
que antes não tinham acesso, como viajar de avião, por exemplo, o que
tem aprofundado os gargalos dos aeroportos do país.
A alta da inadimplência
verificada nos últimos meses não deve ser considerada o pior problema
da classe C, na visão do economista. “O problema no Brasil não é de
endividamento, mas sim as altas taxas de juros”, declarou. Outro
problema, na opinião do pesquisador, é baixa taxa de poupança do
brasileiro.
Comparações – Para o pesquisador, não é possível comparar a classe média americana à brasileira porque os perfis são muito diferentes. A renda das famílias e o tipo de consumo são bastante distintos. Neri relata que, desde 2004, quando houve o início da ascensão da classe média, o Brasil teve três saltos: mais pessoas tiveram acesso a cursos técnicos, houve aumento do número de pessoas com carteira assinada e a qualificação profissional também melhorou. Para o pesquisador, o acesso à educação é um avanço muito importante que contribui para a ascensão da classe C. "Quem olha para a classe média com olhar estrangeiro – de fora para dentro – não percebe o valor do que tem acontecido", disse. Essas particularidades representam outros elementos que não permitem equiparar a realidade brasileira com a americana.
O coordenador do CPS/FGV preferiu comparar o crescimento brasileiro ao
de China e índia, que classificou como “invejáveis”. Contudo, na opinião
do economista, no Brasil há um fator qualitativo: a redução da
desigualdade. “No Brasil, o crescimento é mais sustentável porque temos a
redução da desigualdade, que vem caindo nos últimos onze anos”, disse.
“Este é o ingrediente brasileiro do crescimento”, comemorou.
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