Pense em qualquer inovação que mudou a forma como um processo-chave
de sua organização se desenrolou, ou em como um produto foi produzido.
Eu aposto que a força motora por trás da inovação foi a curiosidade.
A curiosidade — o impulso de buscar novas ideias e experiências — é
fator decisivo para a inovação porque estimula as pessoas a enxergar o
mundo de diferentes perspectivas e a questionar em vez de aceitar o
status quo. Por isso ela é uma ferramenta importante para combater o
conformismo.
No entanto, poucas organizações e líderes aceitam sistematicamente a
curiosidade. Uma exceção é a empresa global de recrutamento de
executivos Egon Zehnder, que desenvolveu uma forma consistente para
avaliar a curiosidade, tanto de seus funcionários como de candidatos que
ela oferece aos clientes.
Muitas empresas avaliam os líderes e funcionários de acordo com
certas competências gerais, como ser orientado para resultados ou ter
capacidade de influenciar pessoas.
A própria Egon Zehnder fez isso durante muitos anos. Mas à medida que
o ambiente de negócios foi se tornando mais volátil e complexo, a
empresa percebeu a importância de aprender novas habilidades para se
adaptar a situações imprevistas, e começou a avaliar os candidatos desse ponto de vista.
Para isso, ela criou um modelo baseado em quatro dimensões:
1. Curiosidade: sede por novas experiências e conhecimento, abertura para o feedback, aprendizagem e mudança.
2. Insight: capacidade de reunir e sintetizar informação que sugere
novas possibilidades.
3. Engajamento: capacidade de conectar-se com outras pessoas e comunicar uma visão.
4. Determinação: persistência para superar obstáculos e atingir metas difíceis.
A pesquisa da Egon Zehnder mostrou que a dimensão mais importante foi
a curiosidade, e as pessoas que tiveram pontuação mais alta em
curiosidade tiveram pontuação mais alta em outras qualidades. Na
verdade, o nível de curiosidade determina a disposição da pessoa em
mostrar um comportamento associado a outros traços, e as variações no
nível de curiosidade predizem as variações no seu desempenho no trabalho
e em comportamentos inovadores. A curiosidade dispara uma resposta
direta em situações que desafiam nossos conceitos. E nossa capacidade de
questionar libera o potencial para a mudança que essas situações
exigem.
Focar na curiosidade, e mais amplamente no potencial, pode lançar uma
luz diferente sobre candidatos que podem parecer inadequados para
determinada função, mas que se destacam diante de novos desafios. Veja o
seguinte exemplo: há vários anos, uma empresa de energia global pediu à
Egon Zehnder que avaliasse seu principal candidato interno a CEO.
Depois de se reunir com o conselho, a Egon Zehnder elaborou uma
descrição detalhada da função, mapeando as competências necessárias
naquele momento e as prováveis competências necessárias no futuro.
Além de avaliar o candidato interno naquelas habilidades, apresentou
ao conselho seis candidatos externos muito bem qualificados. A avaliação
mostrou que o candidato interno tinha fortes competências operacionais e
analíticas, mas deixava a desejar em tino estratégico e não era
eficiente em delegar responsabilidades. Como resultado, o conselho
pensou que talvez fosse preciso dar um passo arriscado, que consumiria
tempo, para recrutar um dos candidatos externos.
No entanto, isso se mostrou desnecessário quando a Egon Zehnder
avaliou o potencial do candidato interno para se adaptar e crescer. As entrevistas com ele e seus colegas revelaram que ele teve a pontuação
mais alta nas quatro dimensões do modelo — principalmente em
curiosidade. Embora ele precisasse melhorar suas habilidades com
pessoas, ele revelou ter grande insight e comunicava sua visão com
eficiência. E tinha experiência comprovada em ultrapassar obstáculos e
atingir metas desafiadoras.
A Egon Zehnder concluiu que com um mentor e o apoio do conselho, o
candidato interno poderia superar seus pontos fracos e adaptar-se a
situações de mudança enquanto a organização continuava a evoluir. Sob a
lente do modelo, ele era o candidato mais forte, superando os externos.
O conselho organizou um programa de desenvolvimento profissional de
um ano, antes de ele se tornar CEO, atribuindo-lhe funções importantes de planejamento estratégico e exigindo que ele delegasse grande parte de suas responsabilidades operacionais. Desde que ele assumiu o comando há alguns anos, ele superou as expectativas do conselho.
Para avaliar a curiosidade, proponha perguntas como as que os
entrevistadores da Egon Zehnder utilizam, particularmente: você já foi
incapaz de conter a sua curiosidade em aprender alguma coisa nova? Dê
exemplos. Em caso positivo, qual foi o combustível que o motivou? As
respostas poderão sugerir se alguém estava preparado para um propósito
restrito (“eu precisei procurar alguma coisa para o meu trabalho”) ou
além da curiosidade inata (“eu simplesmente precisava saber”). A pessoa
curiosa luta para aprender alguma coisa — ela sente que precisa
entender.
A curiosidade aumenta a probabilidade não só de que a pessoa
sobreviverá, mas também triunfará quando encontrar desafios imprevistos.
Encorajando a curiosidade dos funcionários — e nutrindo essa qualidade
em si mesmo —, os líderes podem liberar o potencial da organização para
que ela possa se adaptar e crescer.
Fonte. Harvard Business Review
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