03/06/2015 05:55
Lucas de Abreu Maia, de Revista EXAME
São Paulo - O belga Luc de Brabandere é um especialista quando o assunto é fomentar a criatividade em ambientes de trabalho. Referência na consultoria americana BCG há 14 anos, ele diz que, em vez de pensar “fora da caixinha”, como diz o clichê, os executivos devem focar os setores em que atuam — mas sem medo de errar.
“Não há criatividade onde se teme fracassar e ser punido.” Brabandere, que estará em São Paulo em junho para um evento da empresa HSM, falou por telefone a EXAME.
EXAME - O que é ser criativo no ambiente de trabalho?
Luc de Brabandere - Para entender o mundo, a mente humana precisa catalogar os diferentes assuntos, como se eles fossem colocados em caixinhas. Portanto, quem trabalha no setor bancário não precisa pensar fora dele. É necessário expandir o pensamento e tentar criar novas formas de fazer negócio dentro desse setor. Criatividade é justamente explorar essas novas possibilidades.
EXAME - Mas como isso funciona na prática?
Luc de Brabandere - A rede americana Starbucks vende inúmeras variações de café, como cappuccino e latte macchiato. São inovações que dão muito dinheiro, mas o negócio ainda é vender café. Em Moscou, há uma cafeteria em que tudo é de graça, exceto o tempo que o cliente passa lá.
Mudanças de mentalidade como a da cafeteria russa é o que possibilita o surgimento de ideias disruptivas. Se o modelo russo de “alugar” o espaço para as pessoas trabalharem vai ser o novo paradigma, só o tempo dirá. Mas o caminho é esse.
EXAME - Por que é tão difícil para as pessoas conseguir ter ideias verdadeiramente criativas?
Luc de Brabandere - A maioria das pessoas não gosta de mudanças. É parte da natureza humana. E aí está um paradoxo: para que qualquer estratégia de negócio dê lucro, é preciso que ela seja estável por pelo menos alguns anos. Só que o mundo não é estável.
EXAME - Como implementar o pensamento criativo em empresas focadas no curto prazo?
Luc de Brabandere - É uma questão de cultura empresarial. Um exemplo é o direito ao fracasso. Se ficar claro que um funcionário que errou ao se arriscar não foi demitido, haverá um incentivo para que outros se arrisquem também. Não se pode obrigar as pessoas a ser criativas, mas pode-se criar uma atmosfera em que a criatividade floresça.
EXAME - Quais são as empresas que melhor exemplificam o que o senhor defende?
Luc de Brabandere - Com certeza, entre as companhias que melhor exploram a criatividade dos funcionários estão o Google e a Amazon. Claro que todo mundo sonha com uma empresa em que todas as ideias sejam ótimas e um sucesso. Mas isso não existe. O papel de um bom executivo é convencer os acionistas a confiar nele. O fracasso é essencial para o sucesso e a sobrevivência no futuro.
EXAME - A aceleração das inovações colocou pressão para que as empresas sejam criativas?
Luc de Brabandere - Em 30 anos, o fax, uma tecnologia que era absolutamente inovadora, tornou-se completamente obsoleta. Definitivamente, há uma aceleração.
EXAME - Como as empresas brasileiras podem usar a criatividade para elevar sua produtividade?
Luc de Brabandere - O povo brasileiro é considerado muito criativo, mas é preciso levar essa criatividade para dentro das empresas.
Fonte: Exame.com
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