AÇÃO 2020
02.10.2013
Reunidos no Rio de Janeiro na semana passada, vários setores discutiram entraves e possíveis soluções
Rio de Janeiro. Aproximadamente 450 pessoas, entre empresários, representantes do governo e da sociedade civil e especialistas, estiveram, na semana passada, no VI Congresso Internacional Sustentável 2013 - da Visão 2050 à Ação 2020, promovido pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), no Espaço Tom Jobim (Jardim Botânico). O movimento Ação 2020 visa estruturar a agenda empresarial necessária para responder às exigências de áreas prioritárias da sociedade, definidas por especialistas e ancoradas na ciência, nos próximos sete anos.
O Sustentável 2013 foi dividido em quatro painéis temáticos
Fotos: Divulgação
José Eli da Veiga questionou conceitos; Claudio Carvalho reclamou da falta de critérios para financiamentos, e André Vilhena destacou a importância de soluções consorciadas para os resíduos sólidos
Com tantas visões presentes, até mesmo o consagrado tripé do Desenvolvimento Sustentável teve suas bases abaladas, no sentido de uma reflexão mais aprofundada sobre o que representa em termos práticos. E ninguém melhor para promover essa ruptura no pensamento linear que o economista ecológico José Eli da Veiga. Professor do Programa de Pós-Graduação do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI/USP), ele lembra que os três pilares - econômico, social, ambiental - foram criados para enfatizar que, além do ambiental tem o econômico e o social.
"O problema é que, a partir de aí, meio ambiente passou a ser apenas um terço. O desenvolvimento, por exemplo, tem muitas outras dimensões. Não é só a social. No desenvolvimento humano, a dimensão política é tão importante quanto a econômica e a social e, se olhar para o meio ambiente, ele tem as dimensões climáticas, da biodiversidade, dos oceanos, da água".
"A rigor deve-se dizer que existem dois lados e cada um tem a sua dimensão. Porque dimensão é melhor que pilar. O problema é dizer que tem que equilibrar três pilares. Assim é o discurso. Enquanto o desafio é você dizer: como essas coisas se conectam? Como enxergar a sociedade separada do meio ambiente?".
Para o economista, às vezes, as questões ambientais que eram vistas como um problema para a economia acabam se tornando uma oportunidade. E cita o exemplo do Ozônio: "quem estava correto saiu na frente. Hoje, quem está inovando, avançando científica e tecnologicamente na redução de emissões de carbono está na frente. Para esses, se houver mais rigidez nas normas a respeito do aquecimento global, sairão ganhando".
Ação 2020
"O Ação 2020 é um movimento inédito das empresas. As ações se traduzem como soluções empresariais com foco claro, capazes de promover escala e que sejam mensuráveis", destacou, ainda na abertura, a presidente executiva do CEBDS, Marina Grossi.
Rômulo Paes de Sousa, diretor do Centro Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (Rio+), afirmou que o Brasil tem se apresentado de uma forma assertiva nesse debate, com um avanço político importante e capacidade de interferir na construção de ideias. Ele só acredita que devemos promover uma convergência maior, fazer isso de uma forma mais inteligente.
Por vídeo exibido no telão, Jeffrey Sachs, director of The Earth Institute at Columbia University, também deu sua mensagem na Sustentável 2013. Ele disse que a agenda do Desenvolvimento Sustentável está no centro da agenda do Aquecimento Global, da Biodiversidade, da Desertificação. Lembrou que, como resultado da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio + 20), ficou o compromisso de adotar um sistemas de Metas, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Ele destacou, no entanto, que "sem termos econômicos e sociais que promovam oportunidades, não será suficiente. É preciso transformar tecnologias, relações com clientes, pensar em como fazer nossas cidades resilientes. Todas as cidades precisarão de sistemas de soluções para o Desenvolvimento Sustentável".
"Desenvolvimento e Sustentabilidade: os desafios da governança até 2020", "Financiamentos e Investimentos: a sustentabilidade como critério para a gestão de riscos e tomada de decisão", "Cidades sustentáveis: os principais catalisadores dessa transformação" e "Da Visão 2050 à Ação 2020: soluções empresariais para o novo cenário" foram os temas dos quatro painéis, que reuniram uma vasta gama de atores.
André Vilhena, diretor executivo do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), por exemplo, destacou que o grande impacto da nova Política Nacional de Resíduos Sólidos se dá no roteiro dos negócios, dependendo de soluções consorciadas, onde não se espera soluções individuais, mas setoriais.
Já o diretor geral da Construtora CRV, Claudio Carvalho, reclamou da falta de critérios para definição dos financiamentos: "quando apresento um projeto para obtenção de recursos de uma instituição financeira, sempre me perguntam, por exemplo, sobre questões de solo. Nunca fui questionado, porém, se irei fazer uma sala de aula no meu canteiro de obras para tentar minimizar o problema do analfabetismo. Na avaliação dele, entretanto, a sustentabilidade engloba tanto um problema quanto o outro".
MARISTELA CRISPIM*
EDITORA DE REPORTAGEM
*A jornalista viajou a convite do CEBDS
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