O POVO online
Jornal de Hoje/Opinião
ARTIGO 25/09/2013
Muitos brasileiros julgam este país como aquele onde os valores éticos foram sobrepujados pela força da ambição desmedida, pela quase certeza da impunidade (mesmo quando a pena ocorre esta costuma ser branda), pela quase sempre equivocada escolha do eleitor diante das urnas e pela nefasta característica de uma sociedade que estaria fadada à mazela da corrupção. Esse posicionamento até bem pouco tempo revelava desesperança e descrença, mas os últimos acontecimentos no País – aliado ao crescimento econômico – têm ensinado lições que podem resgatar o que de mais importante um país pode ter: a fé da população – mais especificamente a da juventude – na construção de uma nova maneira de ser povo, podendo esta modificar os rumos da nação.
Recentemente, no Recife, os agentes responsáveis pelo monitoramento do trânsito tiveram a curiosidade de levantar as atitudes solidárias, honestas e voluntárias que ocorriam no cotidiano da cidade. Depararam com uma realidade que contradiz o senso comum, pois o número de ocorrências positivas era incomparavelmente superior ao das atitudes desonestas. O número de manifestantes pacíficos nas ruas supera, em muito, o de vândalos. As ações afirmativas da maioria dos governantes têm buscado a redução da desigualdade socioeconômica e promovido mais acesso à educação, à saúde e à habitação, embora anos de descaso tornem esta missão difícil de ser cumprida. A consciência popular de que em uma democracia o povo é construtor de seu destino tem se ampliado e a classe política começa a perceber isso.
A região Nordeste, antes um peso para o País, desponta como aquela cujo potencial de crescimento na agropecuária, na indústria, no comércio e no turismo – sendo exemplo o Ceará – pode representar significativa mudança nos indicadores econômicos. As minorias se fazem respeitar e as maiorias já não endossam com tanto vigor os preconceitos que caracterizam as sociedades atrasadas.
A pergunta vital é: estariam todos devidamente atentos a essas lições ou ainda há aqueles que se opõem à vontade popular como se dela pudessem dispor, como se a ela pudessem se opor como ocorre, neste momento, com os chamados embargos infringentes referentes ao Mensalão? Como podem nossos ministros, nesse momento em que o povo está nas ruas gritando por ética, por justiça e pelo fim da impunidade, ainda levantarem a hipótese de oferecer privilégios a réus que comprovadamente lesaram os interesses da população?
Uma nação desenvolvida destaca-se, principalmente, pela lisura de seus processos, pela transparência de suas ações e pela confiança do povo em suas instituições. Como país em desenvolvimento, o Brasil precisa seguir essa cartilha básica e o povo brasileiro parece ter aprendido essa lição. O acesso à informação em tempo real, a possibilidade de compará-la em diversas fontes e de compartilhá-la como bandeira tem modificado definitivamente a relação do povo (inclusive da parcela com menor acesso à educação) com seus governantes. Esse caminho não tem retorno e cabe na palma da mão sob forma de um celular com acesso à internet.
As lições do momento estão disponíveis para que todos façam delas democrático aprendizado. Quem primeiro rezar pela cartilha que começa a ser escrita por um povo que se torna mais exigente e esclarecido partirá na frente. Sejamos, portanto, bons alunos, pois, parafraseando antigo adágio popular, “quem não aprender pela observação atenta aprenderá pela resposta do povo”. E eu não tenho dúvidas de que esta será cada vez mais dura.
Honório Pinheirocontato@fcdlce.com.br
Presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Ceará (FCDL-CE)
Fonte: Jornal O POVO
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