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segunda-feira, 1 de abril de 2013

Apesar dos gargalos, campo prospera.


Pesquisa da Agroconsult aponta produção de 185 milhões de toneladas de grãos
17 de março de 2013 | 2h 06

LUIZ GUILHERME GERBELLI , ENVIADO ESPECIAL , LUÍS EDUARDO MAGALHÃES (BA) - O Estado de S.Paulo

O campo brasileiro enfrenta um contraste: a safra recorde de grãos escancarou a infraestrutura ruim do País, com gargalos evidentes nos portos e nas estradas. Os entraves sempre foram conhecidos e colocados na conta do chamado Custo Brasil. O problema é que a situação piorou com os números exuberantes da safra atual.
No oeste da Bahia, os produtores fizeram uma parceria com o Departamento de Infraestrutura e Transporte da Bahia para pavimentar a linha Timbaúba. A melhoria da estrada é fundamental para facilitar e reduzir os custos de escoamento da produção da região, beneficiando várias cidades agrícolas como Luís Eduardo Magalhães, Barreiras e São Desidério, entre outras.
Quando a obra estiver completa, a estimativa é que 185 mil habitantes sejam beneficiados pela parceria, como a dona de casa Ivone Nigolim. Ela mora com o marido na margem da Timbaúba desde 2006 -a energia elétrica só chegou há três anos.
Os dois deixaram Ijuí, no Rio Grande do Sul, e são donos de 357 hectares, dos quais 200 foram transformados em pasto. "Tínhamos um dinheiro e resolvemos investir aqui", afirma. "Não temos plantação, decidimos colocar gado em toda a área. Somos só eu e o meu marido para trabalhar. Plantar fica meio difícil, precisa contratar peão."
O que ela não quer é sair de lá, apesar da distância de 50 quilômetros de Luís Eduardo Magalhães, a cidade mais próxima. "Por mim, eu morava aqui para sempre, mas o meu marido, às vezes, pensa em se mudar. Ele precisa ir para a cidade toda semana por causa do médico", diz.
A situação dos portos também é crítica. A capacidade teórica de exportação de grãos nos terminais brasileiros é de 9 milhões de toneladas ao mês - em 2012, a movimentação mensal superou os 8 milhões de toneladas em alguns períodos. "Existem investimentos que devem elevar essa capacidade, mas por enquanto o que tem é isso", diz Fabio Meneghin, analista da Agroconsult.
O problema é que, segundo levantamento da consultoria, a safra 2012/2013 de soja vai ser 26% maior que a anterior, chegando a 84,5 milhões de toneladas. Na esteira desse aumento, a produção de grãos no País será recorde, de 185 milhões de toneladas. "A única coisa que não mudou muito foi a nossa logística, a mesma de dez anos atrás", diz Meneghin.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) prevê números semelhantes: uma safra de soja de 82,06 milhões, e produção total de grãos de 183,58 milhões de toneladas.
Safra farta. Por causa da safra recorde, o PIB agropecuário terá um crescimento de 6,5% este ano, segundo estimativa da LCA, com base nos últimos levantamentos do IBGE. Em 2012, o PIB do setor caiu 2,3%. "Esse resultado do setor vem de uma recuperação da soja e milho e também de desempenhos menos piores de arroz e feijão. Não deve vir nada demais da pecuária. A diferença, de fato, será na parte de lavoura e por causa desses produtos em especial", afirma Francisco Pessoa Faria, economista da LCA.
O Brasil também ostenta o maior saldo comercial agrícola do mundo, de US$ 73 bilhões, mostram dados de 2011 da Organização Mundial do Comércio (OMC). "O desafio da agricultura brasileira nos próximos anos é se manter como a primeira colocada no saldo comercial agrícola do mundo, alimentando a base importadora que não para de crescer, principalmente nos países da África e da Ásia", diz Meneghin.
O desempenho do agronegócio brasileiro foi impulsionado nos últimos anos pelo crescimento da China, responsável pela importação de 65% da soja produzida no mundo. O apetite pelo produto é tanto que o superávit mundial entre a produção e consumo na safra 2012/2013 deve ser de apenas 2 milhões de toneladas, e a alta é insuficiente para repor o déficit de 17 milhões de toneladas da safra anterior. O peso do Brasil nesse cenário é inegável. O País se consolidou como o maior exportador mundial, com 40 milhões de toneladas, beneficiado pela forte quebra de safra da soja nos EUA no ano passado.
Nova vida. O desenvolvimento do campo mudou a vida daqueles que conseguiram superar os entraves brasileiros, avançar na produtividade das lavouras e pegar carona nesse bom momento.
O produtor José Fava Neto se recorda da data exata em que deixou o interior de São Paulo para, na época, "desbravar o Centro-Oeste". Foi em 30 de dezembro de 1983. Quase três décadas depois, tem 20 mil hectares entre Goiás, Bahia e Minas, com soja, milho e feijão. "Agricultura é sempre um negócio arriscado", afirma ele, presidente da Agrofava.
De fato, é. Mas o produtor brasileiro está mais profissionalizado, fazendo uso de mais tecnologia. Desde 2004, o uso de fertilizantes cresceu a 3,2% ao ano. No período, o mercado de defensivos avançou num ritmo anual de 8,9% e o de maquinários a 7,9%.
Na safra atual, diz Fava, a seca prejudicou o cultivo do feijão, mas "milho e soja se recuperaram". "O preço está na média. É uma média boa", afirma ele, filho de um produtor do Paraná. "Mas o Brasil continua com energia cara, tem insumo caro e dificuldade de escoar."
O campo também conseguiu ser próspero para os pequenos produtores. Para Ary Luiz Nowicki, deu a chance de mandar os dois filhos para a faculdade em Goiânia. Ele é gerente de algumas lavouras da região de Unaí, Minas Gerais, e também produz em 100 hectares. A filha concluiu o curso de ciências da computação; o filho está cursando arquitetura. "Eu pago quase R$ 4 mil para manter os dois em Goiânia."
A espera de Nowicki agora é pela decisão dos dois. O produtor acha que os filhos não voltam para continuar o trabalho dele, que começou na década de 80, quando veio do Paraná.
Indicação: Prof. José Nivaldo Tornisiello

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