20/04/2017 - 07H10 - ATUALIZADA ÀS 07H10 - POR ÉPOCA NEGÓCIOS ONLINE
Para chegar à inovação, é preciso explorar primeiro
O NATURALISTA INGLÊS CHARLES DARWIN, AUTOR DA TEORIA DA EVOLUÇÃO
(FOTO: WIKIMEDIA COMMONS/WIKIPEDIA)
Muita gente acredita que o naturalista inglês Charles Darwin foi o criador do conceito de evolução. Não foi. Muitos pesquisadores já defendiam a ideia de evolução das espécies, como Jean-Baptiste Lamarck. A diferença? Darwin foi o primeiro a apresentar uma hipótese que funcionava.
Hoje, a teoria da evolução das espécies de Charles Darwin é usada nos mais diversos campos. Além de medicina, em que tem grande influência, algoritmos baseados no trabalho do naturalista são usados em setores como logística e engenharia. De acordo com Pedro Domingos em The Master Algorithm, os escritos de Darwin oferecem contribuições significativas até para inteligência artificial.
Não há dúvida de que Darwin é um dos cientistas mais influentes da história humana. Mais de 150 anos após a publicação de A origem das Espécies, seus escritos são vistos como uma poderosa ferramenta científica – que não se limita ao produto do trabalho. O processo de inovação de Darwin é uma fonte de aprendizado para todos nós, de acordo com reportagem de Greg Satell para a Inc.
Veja a seguir o que faz de Darwin uma figura essencial ainda hoje.
1. O valor da exploração
Quando as pessoas pensam em inovação, é comum que pensem em agilidade e empreendedorismo. Jovens profissionais conseguem emprego em uma startup pensando em aprender os mecanismos do negócio, falhar “rápido e barato” e chegar ao sucesso. Se não der certo, é só partir para a próxima startup.
Charles Darwin tomou um caminho diferente. Estudante medíocre, mas com uma paixão por geologia e biologia, ele assinou um contrato como naturalista a bordo do HMS Beagle, em 1831. Foram cinco anos explorando a América do Sul e região do Pacífico. Durante esse período, ele fez observações que o levaram a criar seu trabalho mais famoso, A Origem das Espécies.
As primeiras descobertas de Darwin foram geológicas. Ele encontrou conchas marinhas em rochas a 4 mil metros de altitude, o que ajudaria a comprovar a teoria, que apenas emergia naquele momento, de que a Terra havia se formado durante milhões de anos. Hoje nós aceitamos essa ideia com naturalidade, mas no início do século XIX, era um pensamento bem radical.
Darwin identificou uma incrível diversidade de vida vegetal e animal. Para alguém que nunca tinha saído da Inglaterra, perceber como ilhas e atóis haviam gerado espécies completamente diferentes de plantas e animais foi uma revelação. Foram as observações feitas por Darwin nessa viagem que o levaram a escrever sua famosa teoria.
2. Inovação é combinação
As experiências de Darwin em sua jornada no Beagle não se limitaram a observações superficiais. A bordo do navio e também em terra, ele tinha muito tempo para ler. Um livro que o influenciou foi Princípios da Geologia, de Charles Lyell, que descreve a nova teoria que ajudou Darwin a interpretar suas observações de conchas no alto das montanhas.
De volta à Inglaterra, ele se deparou com um ensaio de Thomas Malthus, que descrevia como populações cresciam mais rapidamente do que os meios para sustentá-las. Foi esse escrito que lhe forneceu a peça final para o quebra-cabeças que se tornaria a teoria da seleção natural das espécies.
Se, como Lyell sugere, o mundo estava mudando constantemente e, como Malthus havia mostrado, os organismos vivos se proliferavam em maior número do que os meios para sustentá-los, então lhe parecia óbvio que havia uma competição constante por sobrevivência. Sob estas condições, características que beneficiassem um indivíduo e lhe permitissem sobreviver em um determinado ambiente poderiam ser passadas adiante por reprodução e aquelas que prejudicassem a sobrevivência, iriam desaparecer com o tempo.
A teoria de Darwin, portanto, combinava as ideias de Lyell sobre geologia, as observações a respeito de população feitas por Malthus e sua própria viagem exploratória, meticulosamente documentada. Sem esses três elementos, é praticamente impossível que ele tivesse chegado às mesmas conclusões.
3. Nenhuma teoria é perfeita
A teoria de Darwin tornou-se uma das mais influentes na história da ciência. Ainda assim, não era perfeita. Ele não conseguiu explicar de que maneira acontecia a diferenciação das espécies. Para ele, toda a vida havia se originado e evoluído através da acumulação gradual sucessiva de mutações fortuitas.
Curiosamente, foi um monge austríaco chamado Gregor Mendel que descobriu a chave para o enigma hereditário em 1865, pouco depois de Darwin publicar A origem das Espécies. Infelizmente, os dois nunca chegaram a ver o trabalho do outro.
A teoria de Darwin permaneceu incompleta por aproximadamente 50 anos até que os cientistas descobriram as mesmas regras da genética na publicação de Mendel. O que consideramos a teoria de Darwin hoje é a combinação do trabalho dos dois homens.
4. Assuntos complexos podem ser vistos por partes
Quando Darwin era vivo, a maioria das pessoas nascia, vivia e morria dentro da mesma região, tendo como seu “mundo” uma área que poderia ser definida em alguns quilômetros quadrados. Quase um terço dos homens e mulheres não era capaz de ler e mesmo os alfabetizados dificilmente tinham dinheiro para comprar livros.
A ideia de milhões de espécies lutando para sobreviver em um meio ambiente mutante extrapolava a imaginação das pessoas comuns. Foi apenas quando Darwin se lançou ao desconhecido que esse mistério passou a tomar forma. E só aconteceu porque o naturalista inglês anotava todas as formas de vida que encontrava nos menores detalhes.
Hoje, como Sam Arbesman descreve em seu livro Overcomplicated, uma boa parte da complexidade que vivemos vem de nossa própria criação. Poucos especialistas em tecnologia entendem mais do que um ou dois aspectos dos sistemas de computadores, assim como o advogado mais prestigiado admite domínio absoluto de uma fração do código legal.
Arbesman sugere que abordemos o problema da complexidade dos tempos modernos da mesma forma que Darwin, ao catalogar e documentar pedaços de ecossistemas na esperança de que, ao fazer isso, uma teoria mais completa possa surgir, assim como o trabalho de Mendel combinado ao de Darwin nos ajuda a entender a evolução das espécies.
A verdade é que inovação requer exploração. Como a viagem de Charles Darwin a bordo do Beagle, não somos capazes de “adivinhar” o que vamos encontrar de antemão. A única certeza é que não vamos aprender nada, se ficarmos parados no mesmo lugar.
Fonte: Época Negócios
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Faça aqui o seu comentário!