O ano está chegando ao fim e, para mim, a marca
deixada por 2016 foram mudanças inesperadas, transformações, pautas que não
estavam no radar. Crise migratória, Brexit, Trump, atentados, o mundo dividido
em dois lados, posições radicais.
Indivíduos com valores e modelos mentais conflitantes compartilham agora os mesmos espaços e projetos. As diversas gerações têm de conduzir juntas as empresas para o futuro.
Pessoas de origens e com visões de mundo distintas. Enquanto para alguns encontrar um emprego foi (e, em muitos casos, ainda é) o grande objetivo de 2016, outros estão em busca de “algo mais”. Mesmo que ocupem uma boa posição em uma empresa, anseiam por uma promoção a toque de caixa ou questionam o significado, o sentido, o propósito do trabalho que realizam. Os desafios do mundo externo somam-se às buscas e dificuldades internas de cada um.
Neste contexto, em que os sistemas estão em ebulição, a capacidade de se adaptar a ambientes em constante e rápida transformação ganhou ainda mais relevância. É preciso estar pronto para lidar com situações em que o plano previamente discutido, submetido, aprovado e colocado em execução perde o sentido de uma hora para outra.
É preciso se reinventar, com a clareza de que daqui a pouco as perspectivas poderão mudar novamente. E novamente. E novamente.
Sobreviver – e até se destacar – em cenários incertos é tarefa para profissionais resilientes. Se não tiver a capacidade de lidar com a possibilidade de que aquilo que resolveu há pouco estará “desrresolvido” em mais um pouco, você tende a ficar para trás. É necessário desprendimento e agilidade para redefinir a palavra “sucesso” de acordo com as condições do momento. Não há mal algum em rever os planos quando as circunstâncias mudam. Há horas em que é preciso redefinir as metas e baixar as expectativas.
Porque objetivos improváveis frustram e geram paralisia. Por outro lado, objetivos realistas motivam. Se meu projeto ficou complexo ou grande demais para as condições do momento, por que não dividi-lo em partes menores?
Quando eu corria maratona, lembro que me concentrava em cumprir um quilômetro por vez. Colocava na cabeça que tinha apenas aqueles mil metros pela frente. Depois outro, até o final. Se eu pensasse que precisava concluir 42 quilômetros, talvez desistisse nos primeiros. O mesmo vale para o trabalho.
Há fatores que não estão em suas mãos e, portanto, é perda de tempo lutar contra eles. Não há nada que você possa fazer de sua mesa de trabalho em relação à variação cambial ou à crise econômica do país, mesmo que ela afete o seu resultado. Mais útil e produtivo é agir no que depende de você para minimizar os impactos negativos externos.
É natural buscarmos culpados ao nosso redor para aquilo que não vai bem. Em momentos de crise, noto que essa tendência se intensifica. Da mesma forma, quando a conjuntura é favorável e realizamos um bom trabalho, tendemos a nos sentir plenamente responsáveis pelo mérito. “Quando está ruim, é culpa do ambiente. Quando está bom, fui eu que fiz.”
Nunca esqueço certa vez em que peguei um táxi e, conversando com o motorista, ele disse: “Tenho de ganhar R$ 200 por dia para pagar minhas contas. Quando o mercado está bom, eu trabalho das 8h da manhã às 7h da noite. Quando está pior, eu tenho de sair às 6h30 de casa e ficar na rua até as 9h da noite”. Provavelmente ele preferia chegar em casa mais cedo. Mas entendeu que precisava ser mais ativo naquela fase. Em vez de lamentar as condições adversas, chamou-me a atenção o fato de ele fazer o que estava ao seu alcance.
Momentos de crise são propícios para uma revisão de rota. Por exemplo, já parou para pensar quanto tempo se gasta com queixas que não vão resolver os problemas? Não seria mais produtivo usar esses recursos para repensar a maneira como está gerindo seu tempo e organizando suas tarefas?
Quando você se apresentava profissionalmente, dois anos atrás, quais eram os pontos fortes e fracos que destacava? Eles são os mesmos que ressalta ainda hoje? Você aprimorou-se no que já era bom e avançou no que deixava a desejar ou está estagnado?
Lembro que, certa vez, li uma entrevista com o arquiteto Oscar Niemeyer. Ele tinha quase 100 anos e uma lista de projetos para o futuro. Aquilo me marcou. A disposição para criar e se reinventar não tem a ver com idade nem com as condições do mundo. Pelo menos, não completamente. E a parte do “não completamente” é a que me interessa ocupar.
Sobre o autor: Regional Director - Latin America na LinkedIn
Fonte: Linkedin
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