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segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Mas afinal, o que é empreender?

A atitude empreendedora vai além da abertura de um negócio: o importante é criar algo diferente e com valor para a sociedade

Por Marcos Hashimoto* - 01/09/2014


Hoje me dei conta de que nunca publiquei um artigo sobre o conceito de empreendedorismo. Falo muito sobre o tema, mas nunca apresentei uma definição. Qualquer pesquisa básica vai trazer uma grande variedade de definições, a maioria relacionada com negócios. Na minha visão, que é recente, empreender é mais do que criar novos negócios. Para facilitar o entendimento, vai abaixo a minha definição de empreendedorismo:

“Empreender é ter autonomia para usar as melhores competências para criar algo diferente e com valor, com comprometimento, pela dedicação de tempo e esforço necessários, assumindo os riscos financeiros, físicos e sociais.”

Esta definição fala muito sobre quem é o empreendedor. Uma atividade ou iniciativa de natureza empreendedora precisa ter por trás uma pessoa, ou um grupo de pessoas, com perfil empreendedor. E o que é esse perfil? Note que “usar as melhores competências” significa que o empreendedor não possui, necessariamente, todas as competências pessoais para construir um negócio bem-sucedido. Como já afirmei em outros textos, nenhum dono de negócio domina todas as competências. Já encontrei empreendedores tímidos, ruins de números, sem formação superior, sem liderança, de todos os tipos - e todos à frente de grandes negócios.

A verdade é que não existe um perfil empreendedor, uma única pessoa que detenha todas as características certas. O que existe são diferentes perfis, cada um complementando as restrições que o outro possui – é o que acontece com um sócio, por exemplo. Assim, o que vale não é deter todas as competências, e sim usar bem as que você possui, para que estas se transformem no seu diferencial.

Outros aspectos que estão sempre presentes em definições de empreendedorismo são:

Autonomia Não existe empreendedor que não exerça sua autonomia para tomar as decisões relacionadas com o seu negócio. Esse é um dos principais motivos pelos quais as pessoas abandonam o emprego e a carreira para se tornarem empreendedores. A autonomia é a capacidade de assumir a responsabilidade pelas suas decisões, a independência na definição do seu caminho, a liberdade de constituir suas próprias regras e paradigmas na construção do negócio.

Dedicação Não existe empreendedorismo sem uma dose de comprometimento e determinação. Essas características, presentes em todos os empreendedores, estão fundamentadas na crença que ele tem no que faz. Ele acredita tanto no seu negócio, tem tanto prazer em atuar nele, que as pedras no caminho parecem pequenas diante de tudo de bom que a empresa proporciona. O prazer de se dedicar a esta atividade, aliada ao otimismo sobre o seu futuro, é que alimentam a perseverança e automotivação do empreendedor, fazendo com que ele tenha a disposição e a energia para se levantar a cada tropeço e enfrentar os desafios com alegria e engajamento.

Risco Também não existe empreendedorismo sem que o empreendedor assuma algum tipo de risco. Risco é a possibilidade de alguma coisa dar errada, inerente ao processo empreendedor. Muitos fundadores bem-sucedidos creditam o seu aprendizado e a sua evolução à sua capacidade de assumir riscos, de aprender com os erros, de perseverar a cada fracasso. Muitas coisas só são aprendidas quando tentamos e erramos - esses são dois lados da mesma moeda.

Diferenciação Não existe empreendedorismo sem a ousadia e coragem de experimentar algo diferente do que existia antes. Inovação e criatividade são duas palavras que estão sempre presentes em definições de empreendedorismo. Ser diferente no produto, nas suas funcionalidades, na forma de enfrentar o concorrente, em estruturas de logística e distribuição, no posicionamento no mercado e seus nichos ou em processos internos são apenas algumas das abordagens de natureza inovadora que refletem os valores do empreendedor.

Por fim, o último elemento fundamental da definição: valor. Note que em nenhuma parte da minha definição de empreendedorismo eu cito a palavra ‘negócio’. Porque não é só negócio. Existem vários tipos de valores que o empreendedorismo gera: o valor econômico-financeiro, que pode ser traduzido por ‘lucro’; o valor intraempreendedor, quando se cria valor para o seu próprio empregador; ou o valor social, quando se gera algum impacto na sociedade ou no ambiente.

Com esta definição, ampliamos o conceito de empreendedorismo para além do negócio próprio. Este é apenas mais uma das formas de criar valor para a sociedade. Mas o comportamento ou atitude empreendedora está em todos os lugares - na dona-de-casa, no porteiro do seu prédio, na faxineira da empresa, no executivo aposentado, na adolescente que se engaja em uma causa social. Qualquer pessoa, independentemente de credo, raça, idade, gênero, vocação, posição social e financeira, pode ter espírito empreendedor, sem necessariamente começar seu próprio negócio.

*Coordenador do Centro de Empreendedorismo da Faap, consultor e palestrante.


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