No levantamento nos bancos, o que se viu é que só correntistas conseguem simulações concretas de juros
São Paulo. "Baixamos os juros. Venha ser nosso cliente". Os bancos anunciam crédito mais barato. Mas, na prática, o consumidor não tem facilidade para comparar as taxas e encontrar o menor juro. A reportagem visitou agências dos cinco maiores bancos de varejo (Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú e Santander).
Fica claro que é fundamental antes de contrair empréstimo avaliar bem o custo
Foto: agência reuters
Em todas, o objetivo era conseguir um empréstimo de R$ 5 mil no crédito pessoal, para um cliente com renda de R$ 2,5 mil.
O que se viu, contudo, é que somente correntistas conseguem simulações concretas de juros. No banco Santander, o balde de água fria veio já no pré-atendimento. A atendente perguntou se o interessado era correntista. Diante da negativa, disse: "Então não tem como fazer a simulação." Só correntistas com mais de três meses de relacionamento e movimentação na conta conseguiriam um empréstimo, segundo a funcionária. E, mesmo sem fazer uma simulação, a atendente informou que a taxa variaria entre 8% e 9% ao mês. No Banco do Brasil, a funcionária calculou um juro de 4,99% ao mês para um perfil de conta poupança criada há oito anos. Fez, porém, uma recomendação curiosa ao ver um cartão da concorrência na carteira do repórter: "Já tentou no Santander? Às vezes eles conseguem taxas melhores". As perspectivas no BB não melhoraram em outra visita. Desta vez, foi apresentado um perfil diferente: um cliente que possui conta corrente há cinco anos. A alegação de que o cadastro estava desatualizado impediu a simulação de empréstimo de bate-pronto.
Mesmo assim, a reportagem insistiu para saber quais as taxas do crédito pessoal. A atendente do BB informou que as menores taxas, entre 3,90% e 4,89% ao mês, poderiam ser acessadas desde que o cliente aderisse ao pacote de serviços Bom Pra Todos, cuja tarifa varia entre R$ 30 e R$ 54. Pela faixa salarial, o repórter pagaria entre R$ 30 e R$ 38 pelo pacote. Caso não aderisse, a taxa seria maior: em torno de 5,89% ao mês. O que foi vivenciado pela reportagem na agência do Banco do Brasil é contrário ao posicionamento da instituição.
Relação com o banco
"A taxa de juros nunca está relacionada com a aquisição de serviços. E sim com a relação que o cliente tem com o banco. Um cliente que se comprometa a concentrar suas movimentações financeiras com o banco terá um juro menor", afirma o diretor de clientes pessoa física do Banco do Brasil, Hideraldo Dwight Leitão. Sem conta no Itaú, a reportagem foi a uma agência solicitar o empréstimo de R$ 5 mil.
O atendente consultou o CPF e viu que o nome do repórter estava limpo. Depois, informou que o crédito só seria liberado em caso de abertura de conta corrente e movimentação por três meses. As taxas para crédito pessoal variariam entre 4,95% e 6,7% ao mês. O funcionário disse que com o comprovante de renda a conta poderia ser aberta, mas a liberação do crédito dependeria do nível de movimentação. Além disso, os juros seriam menores com adesão ao pacote de serviços mais caro.
Depósito
Em outra visita ao Itaú, a informação foi um pouco diferente. Sem detalhar taxas, o funcionário disse que a avaliação de crédito depende de quanto é depositado na conta e não da comprovação de renda. Dessa maneira, o banco entende que o salário do correntista é de R$ 500 se ele depositar esse valor em conta.
A Caixa Econômica foi a instituição que chegou mais perto de oferecer uma pesquisa rápida ao consumidor. A atendente informou que não era necessário abrir uma conta corrente para fazer uma avaliação de crédito, desde que comprovantes de renda, endereço e identidade fossem entregues para análise. Mas pecou ao fornecer duas informações erradas: primeiro, disse que a taxa do crédito pessoal varia entre 2,5% e 6,5% ao mês, enquanto o banco anuncia valores entre 1,80% a 3,88% ao mês. Depois, disse que transferir o recebimento de salário para a instituição não alteraria a taxa.
Mais empréstimos concedidos é meta
São Paulo O principal argumento do governo para incitar bancos a emprestar mais está no passado. Ao lembrar de resultados recentes, a equipe econômica diz que ampliar empréstimos em tempos de incerteza - a chamada ação anticíclica - é bom para o País e para as instituições financeiras. "A atividade econômica poderia estar mais dinâmica se os bancos fossem menos conservadores", diz fonte do governo que acompanha o tema.
Na quarta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pediu a colaboração dos nove maiores bancos que operam no Brasil para aumentar os volumes de crédito e continuar a reduzir juros. Apesar do tom amigável do encontro, ficou uma ameaça no ar. "O movimento da equipe econômica não se limita a essa reunião. Se precisar, vamos agir", diz a fonte. O governo entende que a segunda rodada de reação dos bancos deve começar, mais uma vez, pela mão das instituições públicas.
Aceleração
Dessa forma, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal devem acelerar a concessão de empréstimos ao longo das próximas semanas para tentar levar os privados a fazer o mesmo.
Confiante, o governo usa números do balanço da Caixa que mostra aumento de 25% no lucro semestral, para R$ 2,84 bilhões. Lá o crédito cresceu 45%. O ganho crescente foi na contramão do visto nos privados, que amargaram queda.
Dívidas da população aumentam 20% ao ano
Rio de Janeiro Embora a inadimplência tenha caído 5,68% em julho, conforme dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) Brasil, nos últimos cinco anos o endividamento dos brasileiros está crescendo a um ritmo de 20% ao ano, como avalia o professor de Varejo da Fundação Getulio Vargas, Daniel Plá.
Segundo o economista, a redução da inadimplência no mês passado, a segunda maior este ano (em março foi -11,95%), tem uma única razão. "Hoje, grande parte dos consumidores que surgiram nos últimos três anos é da nova classe média. E a nova classe média é boa pagadora. As pessoas de menor renda dão muito valor em manter o crédito e não querem ficar com o nome sujo. Já as pessoas de maior renda esgotaram praticamente a capacidade de endividamento e, quando estão inadimplentes, preferem discutir a dívida na Justiça". Daniel Plá disse que os bancos estão mais cautelosos na concessão de crédito. "Isso reduziu a inadimplência". Segundo ele, o mesmo ocorre em relação a alguns consumidores. "Tem pessoas mais cautelosas, que não querem perder o seu crédito, nem ficar super endividadas. Isso também reduz (a inadimplência)".
Apelos
Por outro lado, o economista destacou que os apelos do comércio são grandes e podem levar o consumidor a ficar endividado. Segundo ele, as pessoas devem ficar atentas, em especial às ofertas de eletroeletrônicos, cujos preços promocionais e aparentemente vantajosos têm uma duração limitada e podem embutir juros elevados. "O efeito é que os consumidores acabam se endividando porque as prestações não cabem no seu bolso".
Em todas, o objetivo era conseguir um empréstimo de R$ 5 mil no crédito pessoal, para um cliente com renda de R$ 2,5 mil.
O que se viu, contudo, é que somente correntistas conseguem simulações concretas de juros. No banco Santander, o balde de água fria veio já no pré-atendimento. A atendente perguntou se o interessado era correntista. Diante da negativa, disse: "Então não tem como fazer a simulação." Só correntistas com mais de três meses de relacionamento e movimentação na conta conseguiriam um empréstimo, segundo a funcionária. E, mesmo sem fazer uma simulação, a atendente informou que a taxa variaria entre 8% e 9% ao mês. No Banco do Brasil, a funcionária calculou um juro de 4,99% ao mês para um perfil de conta poupança criada há oito anos. Fez, porém, uma recomendação curiosa ao ver um cartão da concorrência na carteira do repórter: "Já tentou no Santander? Às vezes eles conseguem taxas melhores". As perspectivas no BB não melhoraram em outra visita. Desta vez, foi apresentado um perfil diferente: um cliente que possui conta corrente há cinco anos. A alegação de que o cadastro estava desatualizado impediu a simulação de empréstimo de bate-pronto.
Mesmo assim, a reportagem insistiu para saber quais as taxas do crédito pessoal. A atendente do BB informou que as menores taxas, entre 3,90% e 4,89% ao mês, poderiam ser acessadas desde que o cliente aderisse ao pacote de serviços Bom Pra Todos, cuja tarifa varia entre R$ 30 e R$ 54. Pela faixa salarial, o repórter pagaria entre R$ 30 e R$ 38 pelo pacote. Caso não aderisse, a taxa seria maior: em torno de 5,89% ao mês. O que foi vivenciado pela reportagem na agência do Banco do Brasil é contrário ao posicionamento da instituição.
Relação com o banco
"A taxa de juros nunca está relacionada com a aquisição de serviços. E sim com a relação que o cliente tem com o banco. Um cliente que se comprometa a concentrar suas movimentações financeiras com o banco terá um juro menor", afirma o diretor de clientes pessoa física do Banco do Brasil, Hideraldo Dwight Leitão. Sem conta no Itaú, a reportagem foi a uma agência solicitar o empréstimo de R$ 5 mil.
O atendente consultou o CPF e viu que o nome do repórter estava limpo. Depois, informou que o crédito só seria liberado em caso de abertura de conta corrente e movimentação por três meses. As taxas para crédito pessoal variariam entre 4,95% e 6,7% ao mês. O funcionário disse que com o comprovante de renda a conta poderia ser aberta, mas a liberação do crédito dependeria do nível de movimentação. Além disso, os juros seriam menores com adesão ao pacote de serviços mais caro.
Depósito
Em outra visita ao Itaú, a informação foi um pouco diferente. Sem detalhar taxas, o funcionário disse que a avaliação de crédito depende de quanto é depositado na conta e não da comprovação de renda. Dessa maneira, o banco entende que o salário do correntista é de R$ 500 se ele depositar esse valor em conta.
A Caixa Econômica foi a instituição que chegou mais perto de oferecer uma pesquisa rápida ao consumidor. A atendente informou que não era necessário abrir uma conta corrente para fazer uma avaliação de crédito, desde que comprovantes de renda, endereço e identidade fossem entregues para análise. Mas pecou ao fornecer duas informações erradas: primeiro, disse que a taxa do crédito pessoal varia entre 2,5% e 6,5% ao mês, enquanto o banco anuncia valores entre 1,80% a 3,88% ao mês. Depois, disse que transferir o recebimento de salário para a instituição não alteraria a taxa.
Mais empréstimos concedidos é meta
São Paulo O principal argumento do governo para incitar bancos a emprestar mais está no passado. Ao lembrar de resultados recentes, a equipe econômica diz que ampliar empréstimos em tempos de incerteza - a chamada ação anticíclica - é bom para o País e para as instituições financeiras. "A atividade econômica poderia estar mais dinâmica se os bancos fossem menos conservadores", diz fonte do governo que acompanha o tema.
Na quarta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pediu a colaboração dos nove maiores bancos que operam no Brasil para aumentar os volumes de crédito e continuar a reduzir juros. Apesar do tom amigável do encontro, ficou uma ameaça no ar. "O movimento da equipe econômica não se limita a essa reunião. Se precisar, vamos agir", diz a fonte. O governo entende que a segunda rodada de reação dos bancos deve começar, mais uma vez, pela mão das instituições públicas.
Aceleração
Dessa forma, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal devem acelerar a concessão de empréstimos ao longo das próximas semanas para tentar levar os privados a fazer o mesmo.
Confiante, o governo usa números do balanço da Caixa que mostra aumento de 25% no lucro semestral, para R$ 2,84 bilhões. Lá o crédito cresceu 45%. O ganho crescente foi na contramão do visto nos privados, que amargaram queda.
Dívidas da população aumentam 20% ao ano
Rio de Janeiro Embora a inadimplência tenha caído 5,68% em julho, conforme dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) Brasil, nos últimos cinco anos o endividamento dos brasileiros está crescendo a um ritmo de 20% ao ano, como avalia o professor de Varejo da Fundação Getulio Vargas, Daniel Plá.
Segundo o economista, a redução da inadimplência no mês passado, a segunda maior este ano (em março foi -11,95%), tem uma única razão. "Hoje, grande parte dos consumidores que surgiram nos últimos três anos é da nova classe média. E a nova classe média é boa pagadora. As pessoas de menor renda dão muito valor em manter o crédito e não querem ficar com o nome sujo. Já as pessoas de maior renda esgotaram praticamente a capacidade de endividamento e, quando estão inadimplentes, preferem discutir a dívida na Justiça". Daniel Plá disse que os bancos estão mais cautelosos na concessão de crédito. "Isso reduziu a inadimplência". Segundo ele, o mesmo ocorre em relação a alguns consumidores. "Tem pessoas mais cautelosas, que não querem perder o seu crédito, nem ficar super endividadas. Isso também reduz (a inadimplência)".
Apelos
Por outro lado, o economista destacou que os apelos do comércio são grandes e podem levar o consumidor a ficar endividado. Segundo ele, as pessoas devem ficar atentas, em especial às ofertas de eletroeletrônicos, cujos preços promocionais e aparentemente vantajosos têm uma duração limitada e podem embutir juros elevados. "O efeito é que os consumidores acabam se endividando porque as prestações não cabem no seu bolso".
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