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quarta-feira, 5 de outubro de 2016

"Uber dos caminhões" quer revolucionar o transporte de cargas no país

O CargoX, site de economia compartilhada, promete reduzir a ociosidade da frota e baratear o frete em 30%

POR TERESA RAQUEL BASTOS

A ideia é abocanhar uma fatia do mercado nacional de cargas (Foto: Editora Globo/ Globo Rural)


Publicado originalmente na edição de maio de 2016 de GLOBO RURAL.
O mexicano Oscar Salazar desembarcou no Brasil com um novo conceito de economiacompartilhada na bagagem. A ideia é abocanhar uma fatia do mercado nacional de cargas. Salazar é um dos três fundadores do Uber, uma das maiores empresas de transporte urbano do mundo – e que não tem um só veículo em sua frota.

A tecnologia batizada de CargoX faz sua estréia mundial no mercado brasileiro com um investimento de R$ 100 milhões a ser gastos até 2017. A expectativa é faturar R$ 48 milhões já este ano. “Pretendemos revolucionar o mercado de transporte de cargas do país”, afirma o executivo.
O site proporciona negociação em tempo real entre os usuários e os mais de 100 mil caminhoneiros autônomos cadastrados na plataforma. Por acionar o motorista mais próximo, a tecnologia promete agilidade, flexibilidade e qualidade no serviço.

Para oferecer tais predicados, os condutores passam por uma seleção, quando são levantados antecedentes criminais, acidentes e incidentes de roubos de carga, além do tempo de uso do caminhão – no máximo, dez anos de rodagem. Os aprovados recebem treinamento da CargoX. O caminhoneiro pode destinar 90% do tempo para atender às “corridas” do serviço, mas também tem a opção de fazer serviços por conta própria.
Por parte da empresa ficam as responsabilidades iguais às de qualquer outra transportadora: pagamento de impostos, seguro da carga e outras obrigações legais. De qualquer forma, o contratante assume os riscos comuns de contratar um caminhoneiro autônomo, resolvendo diretamente com ele a documentação adequada.

O argentino Federico Vega, CEO da CargoX, diz que eles são “uma empresa de tecnologia, não de frete”. “O que fazemos é ajudar o embarcador sofisticado a contatar um caminhoneiro diretamente. Quem não quer ter esse trabalho burocrático opta por contratar uma empresa convencional de logística”, explica.

Solução logística

O serviço mira no excesso de caminhões circulando (a empresa estima, com dados não oficiais, que há cerca de 350 mil além do que o país precisa) e na consequente ociosidade do mercado brasileiro de frete, que opera 40% desocupado em sua capacidade.

A plataforma usa bancos de dados e a telefonia móvel. O site mostra a localização do motorista e a CargoX cruza informações sobre as cargas disponíveis que tenham a mesma origem.

A organização de oferta e demanda promete uma economia inicial de 30% nos custos com frete, ao evitar que caminhões voltem vazios ao local de origem. Tanto na ida como na volta, o espaço nos veículos pode ser 100% aproveitado.

Por exemplo: se um motorista possui espaço no caminhão para 5 toneladas (peso mínimo por veículo na CargoX) e determinado cliente quer contratar apenas 3 toneladas, o serviço automaticamente procura outro usuário que tenha o volume necessário para completar a carga.

Isso pode significar mais dias de espera para a carga sair, contudo, o custo será menor para o embarcador que divide o preço com outro usuário em vez de bancar toda a capacidade sozinho. A renda oferecida ao motorista promete cobrir gastos com combustível, pedágios e ainda gerar lucro ao transportador.

“Não acredito nessa economia (do frete) porque a categoria está sempre no limite, com margem curta. Quem me dera ter essa economia”, questiona Oswaldo Dias Junior, diretor-geral da Golden Cargo, empresa com sede em São Paulo e que conta com uma frota de mais de 1.000 caminhões. “Se isso acontecer, há exploração em algum ponto.”

Inovação na crise

O Brasil tem uma das maiores malhas rodoviárias do mundo, sendo este modal o mais usado para escoamento da produção agropecuária, o que explica a preferência da diretoria da CargoX por começar a atuação mundial no país. “Queremos expandir o serviço no mundo. Outros países têm problemas logísticos, mas o do Brasil é maior e queremos resolvê-lo”, afirma Federico. O momento difícil vivido pelo país é apontado como uma oportunidade para a criação da companhia. Para o argentino, a crise brasileira oferece o melhor momento de investir no Brasil.

“Os investidores estão saindo com medo. Isso é passageiro. O país vai ser uma das maiores economias do mundo, por isso estamos focando aqui enquanto todos estão querendo fechar suas empresas.” A aposta parece estar dando certo. O executivo afirma que o serviço cresce 100% por mês em número de usuários e negociações. Em março, essa taxa foi de 130%. Para seguir em alta, ele aponta como a única dificuldade a resistência dos clientes de um mercado tão conservador. “Tem uns que aceitam, outros não.” O CEO diz ter 30 embarcadores grandes em sua clientela, “entre elas uma multinacional europeia com mais de 20 mil funcionários”, mas não cita nomes.

Mas a inovação tecnológica na logística não é exclusividade da CargoX. Há aplicativos com propostas semelhantes, como o Truck Pad (criado em 2013 e que tem como usuários ativos mais de 481 mil caminhoneiros em todo o Brasil), mas que optam por transportar cargas pequenas de pessoas físicas e pequenas e médias empresas, o que não concorre diretamente com a proposta do “Uber dos caminhões”.

Federico não vê seu produto como uma ameaça à concorrência, seja ela online ou analógica, como grandes frotistas. “Somos concorrentes diretos apenas dos transportadores que não têm frota própria, disputando seus colaboradores. Mas nossa diferença é que, no serviço convencional, AC arroceria volta vazia”, defende. O presidente da Golden Cargo também não teme perder espaço no setor. “Não adianta o prestador de serviço estar na esquina se não passar por um conjunto de requisitos. Pode transportar até de graça, mas, se não tiver qualidade, só faz (o embarcador) perder tempo”, diz.

Já Gilson Baitaca, que tem uma pequena transportadora em Mato Grosso, diz que o "Uber dos caminhões" não deve amedrontar empresas consolidadas, mas pode ser uma grande ajuda para os caminhoneiros autônomos impactados pela crise e que estão com dificuldades para encontrar serviço. Segundo Gilson, “os frotistas têm reduzido investimentos em novos veículos porque não há condições boas de crédito e os motoristas têm mais opções para seguir adiante no destino com a carga cheia. Mais de 90% dos caminhoneiros se comunicam pela internet, principalmente em grupos no WhatsApp, e o novo aplicativo só deve beneficiar essa categoria que já é conectada”.



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